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Entrevista com Eduardo Pinto, candidato ao diaconado permanente

Paz e Bem para todos vós!

Eduardo Pinto, tem 53 anos, é casado com Cecília Torres, reside na paróquia do Santíssimo Salvador de Resende e é candidato ao diaconado permanente para servir na diocese de Lamego.

Qual o envolvimento pastoral que tem na paróquia de residência?

Na minha paróquia, desde 2005, tenho-me envolvido, na generalidade, em tudo para que fui solicitado, e de forma cada vez mais comprometida, a saber: grupos corais; grupo de leitores; ministro extraordinário da comunhão (MEC); integrei o secretariado diocesano do movimento dos cursilhos de cristandade; posteriormente, o grupo de catequistas, tendo, pertencido ao secretariado diocesano de educação cristã. Integro o grupo de acólitos e sou membro dos Conselhos, Económico e Pastoral, Paroquiais.

Quando tomou a decisão de ser diácono permanente? Porquê?

A decisão não foi tomada num momento exato… penso que surgiu fruto da minha dedicação, cada vez maior, em servir Cristo, em todos os irmãos que constituem a comunidade eclesial, no serviço empenhado nos grupos e movimentos paroquiais e diocesanos, em que estou comprometido, pela provocação de alguns sacerdotes, mais próximos, sobre a minha aptidão para esta diakonía e, com o discernimento dos sinais dados pelo Senhor a respeito desta minha vocação, isto durante um ano, no chamado período propedêutico, onde juntamente com seis irmãos da diocese do Porto, amadureci as ideias fundamentais, e que resultaram, então, na minha decisão convicta em consagrar-me a este ministério, com o “sim” dado na admissão às ordens sacras, em outubro de 2021.

Que papel teve a família nesta decisão e no caminho de formação cristã?

A minha família teve um papel fulcral na minha formação cristã… Eu nasci em Luanda, na altura província ultramarina portuguesa e, desde os meus primeiros dias de vida houve uma grande preocupação dos meus pais e avós maternos, que já eram cursilhistas na altura, de que fosse integrado na comunidade cristã, pelo Batismo (em 1970). Já depois do retorno da minha família à Metrópole (Portugal continental), procuraram com que fizesse a minha formação de acordo com os princípios e valores do Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo, sendo meu catequista, o meu progenitor. Fiz o percurso normal de crescimento cristão, recebendo os outros Sacramentos de iniciação cristã, Eucaristia (em 1976, a 1.ª Comunhão) e a Confirmação, este já adulto (em 1993). A seguir, com algumas intermitências na prática religiosa, mas jamais com vontade em abandonar Cristo, quando conheci a minha esposa e decidimos fazer vida em comum, fizemos questão de selar a nossa união contraindo o sacramento do Matrimónio (em 2003). Portanto, devo à família os princípios cristãos que orientam e regem a minha vida e que muito contribuíram para esta decisão.

Que papel tiveram as paróquias/párocos por onde passou para esta decisão?

De um modo geral, todos tiveram um papel importantíssimo! Destaco alguns párocos e outros sacerdotes: um, que considero um pai espiritual, o saudoso Monsenhor António Martins, popularmente conhecido por Sr. Abade, que foi quem um dia me acenou e me encaminhou para frequentar um Cursilho de Cristandade (em 2005, o 49.º Homens), no qual se deu o meu reencontro com Cristo, ficando-me marcado uma passagem sobre o apostolado de S. Paulo, “Não que já o tenha alcançado ou já seja perfeito; mas corro para ver se o alcanço, já que fui alcançado por Cristo Jesus”(Fl 3,12) Foi o clique, para desde então, O tentar servir, nos demais em Igreja, comprometendo-me cada vez mais nos serviços pastorais paroquiais. Foi o Sr. Abade o primeiro que um dia, num convívio, disse, com o seu sorriso característico “Eu tenho aqui dois diáconos!” (referindo-se a mim e ao meu amigo Adérito Dias). Recordo-me de que numa formação para agentes de pastoral, dinamizada pelo CEFECULT, em que foi abordado o ministério diaconal permanente, restaurado desde o concílio Vaticano II e, existente na maioria das dioceses portuguesas, mas com reduzida tradição em Lamego, alguém referiu que este ministério não era muito bem entendido, tanto por leigos, como por alguns sacerdotes, ao qual o professor, hoje bispo, D. Joaquim Dionísio, lamentou esse ponto de vista, salientando que, na sua opinião, se tratava de um enriquecimento espiritual e pastoral para a Igreja diocesana e, como tal, apreciava e incentivava todo aquele que fosse indicado e que aceitasse consagrar-se a esse ministério. Isto, seguido de uma provocação do Pe. Excelso Ferreira, junto dos meus párocos, Pe. José Augusto Marques e Pe. Tozé Ferreira, que com a concordância de ambos, me levaram a interiorizar a ideia e a iniciar o discernimento desta vocação escondida.

A esposa aceitou bem a decisão e apoia-o?

Para qualquer candidato casado é necessário o consentimento por escrito da esposa, tanto para a admissão às ordens sacras, como para a ordenação. Depois desta, o seu apoio é fundamental, no sentido de que a esposa irá ter presença importante no exercício da vocação do marido pela dupla sacramentalidade (Matrimónio e da Ordem), devendo a esposa envolver-se no que for possível. No meu caso, confesso que a minha esposa, no início, não foi muito recetiva à minha caminhada, julgando que iria precisar de mais tempo para dedicar aos outros, em detrimento do necessário para dedicar à família. Mas, depois, foi percebendo que este meu gosto pelo serviço na comunidade, em Igreja, me realiza como homem, cristão e marido e, por conseguinte, ao longo deste percurso de preparação, ela, de forma discreta, tem-me apoiado imenso, incentivando-me nos momentos complicados nos estudos teológicos, transmitindo-me perseverança, fortalecendo-me nos meus propósitos e mostrando compreensão pelos momentos de ausência para dedicação ao serviço do povo de Deus na Igreja.

Teve de fazer alguma formação específica? Qual? Onde?

Sim, claro. Após a decisão inicial, e com o apoio dos meus párocos, fui apresentado ao nosso Bispo, Sr. D. António Couto. Após a respetiva anuência deste, fomos, juntamente com o Diretor do Departamento da Pastoral Vocacional, Pe. Bráulio Carvalho, “bater às portas” do Centro de Cultura Católica do Porto, onde o respetivo diretor, Cón. Adélio Abreu, me integrou num grupo de seis aspirantes ao diaconado permanente que, também, estavam a iniciar o processo. Nos três anos letivos seguintes, já como candidato, cumpri no mesmo estabelecimento o programa de formação, abrangendo as diversas dimensões da formação previstas (humana, espiritual, teológica e pastoral), pela frequência de Curso Básico de Teologia (29 cadeiras) e encontros formativos nas tardes de alguns sábados, para além de recoleções e retiros, sem e com as esposas, isto totalizando cerca de mil horas de formação, tal como previsto nas Normas Fundamentais para a formação dos diáconos permanentes. Entretanto, fui instituído nos ministérios de Leitor e de Acólito, cumprindo os interstícios exigidos.

Que perspetivas tem em relação ao desempenho dessa missão?

O ministério do diácono é sintetizado pelo Concílio Vaticano II na tríplice diaconia: da liturgia, da palavra e da caridade. Citando o Papa Francisco no discurso dirigido aos diáconos da diocese de Roma, em junho de 2021, em que alertou que o diácono não é um ‘meio-sacerdote’, nem um ‘acólito de luxo’, e, como tal, deveria atuar não como um padre de segunda categoria, mas antes como um servo humilde e cuidadoso, que não “procure as filas da frente”, mas se entregue ao serviço e à caridade. Assim, espero ser mais um elemento na missão de uma Igreja serva e ao serviço dos mais fragilizados, numa forma de serviço de proximidade, colaborando no que for solicitado, para ajudar o Povo de Deus a uma adesão mais consciente a Cristo, desde o anúncio da palavra, na pastoral sacramental e em ações caritativas.

Onde irá exercer a sua missão pastoral?

Onde? Ora, sabemos que o diácono é ordenado para o serviço ao povo de Deus na Igreja, em comunhão com o Bispo e os Presbíteros, devendo exercer esse serviço em sinergia com os leigos, atuantes e essenciais em cada uma das paróquias. Particularmente, no meu caso, terei de obedecer ao serviço que o Sr. Bispo me atribuir, na certeza de que terá em conta o tempo para as minhas atividades, familiares e profissionais. Assim, conto ficar a colaborar com os meus párocos, pois, na cerimónia da minha admissão às ordens sacras, em Resende, o Sr. D. António Couto transmitiu estas palavras a toda a assembleia: “O Eduardo está a preparar-se para ser diácono permanente para, de forma permanente, vos servir!”

Que desafios faz a outros homens que se interroguem sobre essa possibilidade de serem diáconos permanentes?

O que posso transmitir a todos os homens a quem seja proposto por algum sacerdote este desafio é que se interroguem sobre esta possibilidade, que recorram à oração e tentem escutar o seu coração e, através desse diálogo com Deus, se necessário com ajuda espiritual, façam um discernimento sobre a existência real ou não desta vocação. Isto, com otimismo e sem medo, pois o Senhor serve-se de homens e mulheres pecadores, e todo aquele que ao se sentir chamado, Lhe disser sim, Ele faz em cada um deles maravilhas. Deus capacita cada um.

Uma mensagem vocacional para os jovens que queira deixar

Vivemos, hoje, num mundo marcado pelo secularismo, onde me impressiona mais o indiferentismo em relação a Deus do que propriamente o ateísmo. Deste modo, aos jovens chamava a atenção para usufruírem das coisas boas que o mundo nos proporciona, mas para rejeitarem aquelas que, apenas, satisfazem o nosso ego, que nos causam prazer aparente, mas que são efémeras; e que agarrem aquelas que satisfazem o nosso eu verdadeiro, aquele que está unido ao Deus Criador, dado cumprimento à vocação universal a que cada um é chamado, em percorrer um caminho de verdade e de liberdade até que se sinta profundamente realizado, pois só aí é que chega a ser o que Deus quer. Ora, Sendo batizado, que cada jovem esteja atento aos sinais que Deus lhe dá e neles encontre uma vocação específica de comunhão e serviço, onde em Igreja, encontre formas concretas de viver e manifestar o Amor de Deus no mundo, seja pelo matrimónio e construção de família, seja pelo sacramento da ordem ou vida consagrada, ou seja, pela vida laical, pelo trabalho, etc.


Iara Madureira, in Voz de Lamego, Ano 93/38, n.º 4718, de 23 de agosto de 2023

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