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Todos nós, após sermos concebidos, recebemos a graça de ter duas mães, aquela que nos transporta e alimenta, e a que vela por nós a cada instante e intercede por nós junto do Pai, aquela que vemos e nos abraça no nascimento, e aquela que permanece dentro do coração toda a nossa vida. Somos ricos, muito ricos, e ao mesmo tempo, tão pobres. Muitas vezes nos queixamos das reprimendas que levamos, sem perceber que essa educação é fundamental para a nossa vida, só nos iremos aperceber disso mais tarde enquanto pais, e quando não tivermos a nossa mãe fisicamente presente. Muitas vezes dizemos que andamos sozinhos e não compreendemos a graça de ter sempre uma mãe no coração e de estarmos dentro do coração de outra eternamente, ingratos!

Jesus mostrou-nos a importância de termos mãe e se sermos filhos: «Então, Jesus, ao ver ali ao pé a sua mãe e o discípulo que Ele amava, disse à mãe: «Mulher, eis o teu filho!» Depois, disse ao discípulo: «Eis a tua mãe!» E, desde aquela hora, o discípulo acolheu-a como sua.» (Jo.19, 26-27). Somos frágeis, e Jesus sabia que iríamos precisar sempre de uma Mãe, tal como o coração desta nossa Mãe é tão grande que sente a necessidade de nos acolher e acarinhar permanentemente. Jesus deu-nos tudo, deu-nos os ensinamentos e ofereceu-nos uma Mãe para nos auxiliar nas dificuldades, um modelo de fé, de sabedoria, de paciência, de esperança e de caridade a seguir. A Sua crença e firmeza devem ser para nós modelos de vida, o Seu ‘sim’, o Seu ‘faça-se em mim segundo a tua palavra’, são atitudes encorajadoras para todos os momentos de dúvida e desespero que nos assaltam.

A festa da Imaculada Conceição, comemorada em 8 de dezembro, foi inscrita no calendário litúrgico pelo Papa Sisto IV, em 28 de fevereiro de 1477, mas foi solenemente definida como dogma: «Em 8 de Dezembro de 1854, perante uma multidão de mais de cinquenta mil pessoas vindas de todas as partes do mundo, rodeado por 54 cardeais e 140 arcebispos e bispos, Pio IX definia e proclamava, pela bula Ineffabilis Deus, que a doutrina que afirmava ter sido a bem-aventurada Virgem Maria, no primeiro instante da sua Conceição, por singular graça e privilégio de Deus Omnipotente, em atenção aos méritos do Salvador do género humano, Jesus Cristo, preservada imune de toda a mácula da culpa original, havia sido revelada por Deus e que, por isso, deveriam nela constantemente e firmemente acreditar todos os fiéis.»

Parece uma injustiça esta bula Ineffabilis Deus chegar 1800 anos após Maria nos ter sido ‘entregue’ por Jesus, mas Ela, com a tranquilidade e amor que lhe são característicos, soube esperar e receber-nos de braços abertos. Espera por nós, e perdoa-nos, todas as vezes que nos afastamos de Si, com a mesma alegria.

O culto a Nossa Senhora da Conceição, um último apontamento a título de curiosidade, está deveras enraizado no nosso país, ainda antes da bula Ineffabilis Deus. Cedo, ainda nos primórdios da Nação Portuguesa, foi celebrada em Lisboa uma Missa pontifical de ação de graças, em honra da Imaculada Conceição, após Lisboa ter sido conquistada aos mouros, em 1147, pelo primeiro Rei de Portugal, D. Afonso Henriques. Nas cortes de 1646, então reunidas em Lisboa, El-Rei D. João IV tomou a Virgem Nossa Senhora da Conceição por padroeira do Reino de Portugal, coroando-a Rainha e Padroeira de Portugal e de todos os seus territórios ultramarinos.

Que a Imaculada Conceição nos guie, hoje e sempre, não tenhamos medo!


Raquel Assis, in Voz de Lamego, ano 93/05, n.º 4684, 7 de dezembro de 2022

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