- O Papa que veio do «fim do mundo» manteve-se em missão neste mundo até ao fim.
Na manhã desta segunda-feira, poucas horas depois de ter vindo saudar a multidão da varanda da Praça de São Pedro, «passou deste mundo para o Pai» (cf. Jo 13, 1). Em plena semana da Páscoa, consumou assim a sua própria Páscoa.
2. A sua peregrinação terrena termina quando a humanidade se afunda, uma vez mais, num atoleiro de ódios e conflitos que tanto molestaram o seu coração.
Ainda assim, centrou o Jubileu em curso na «esperança que não engana» (Rom 5, 5). E, apesar das evidências em sentido contrário, não desistiu de «sonhar que as armas de calem e deixem de difundir destruição e morte».
3. Divisou a necessidade de instaurar «uma aliança global em prol da esperança». Nela devemos permanecer alegres (cf. Rom 12, 12), mesmo na iminência da morte.
«Em virtude da esperança, temos a certeza de que a história não corre para uma meta sem saída nem para um abismo escuro, mas está orientada para o encontro com o Senhor».
4. É na esperança que verdadeiramente fazemos «sínodo». É na esperança que temos de «caminhar juntos», como nos propunha no início da Quaresma.
Para isso, é preciso pensar com o coração. O coração não é prioritariamente um órgão do corpo; o coração sinaliza o centro vital do homem.
5. Salta, portanto, à vista que, para mudar a humanidade, temos de «reformar o nosso coração».
Do Coração de Jesus «continua a correr aquele rio que nunca se esgota, que não passa, que se oferece sempre de novo a quem quer amar». É amando — e nunca armando — que se fará a revolução que falta: a revolução «no» e «do» coração.
6. É junto de Jesus que se alicerça a «Igreja em saída», tão insistentemente conclamada pelo Papa Francisco em todo o seu ministério.
A pobreza de Cristo que nos enriquece «é Ele fazer-Se carne, tomar sobre Si as nossas fraquezas, os nossos pecados, comunicando-nos a misericórdia infinita de Deus».
7. É, portanto, no humano que Cristo deve ser procurado.
Ele o atestou: «Tudo o que fizestes a um destes Meus irmãos mais pequeninos, a Mim mesmo o fizestes» (Mt 25, 40).
8. É imperioso estar com Cristo que nos envia às pessoas.
O Papa Francisco levantava-se de madrugada para rezar e confiava-se incessantemente à oração dos outros: «Rezem por mim» — tornou-se o seu pedido insistente.
9. Não há tempo para rezar? Ou não existe vontade de rezar?
O problema é que nos tornamos escravos do relógio. Esquecemos que só «o Senhor é o “relógio” da vida».
10. Santidade, agora é a nossa vez de pedir. «Reze por nós»: para que a Igreja leve Cristo à humanidade e para que ajudemos a humanidade a reencontrar-se em Cristo.
Que nós percebamos — de uma vez para sempre — que é o amor que «cura» a vida, que é o amor que nos salva. Por tudo obrigado, Santidade!
Pe. João António, in Voz de Lamego, ano 95/23, n.º 4800, de 23 de abril 2025