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Amar é dar ao outro o que é meu

Foram muitas as reflexões deixadas pelo Papa Bento XVI, todas elas brilhantes e profundas. Nos últimos dias surgiu uma proliferação de diversas citações suas nos meios de comunicação social, pena o mesmo não ter sido feito ao longo do seu pontificado para que todos o pudessem conhecer na sua verdadeira essência e não apenas de forma distorcida.

«Justiça é dar ao outro o que é dele; amor é dar ao outro o que é meu.»

Pensamento completo, profundo, verdadeiro.

Amor, paz, saúde e justiça… três pilares essenciais na sociedade, sempre desejados, mas de forma mais intensa nestas épocas de início de ano civil.

Desejos pedidos, mas talvez pouco compreendidos por quem pede e deseja.

Amar não é apenas dar um sorriso, um abraço, um beijo. Não é apenas desejar o bem e ajudar quando necessitam.

Amar é muito mais que isso. É colocar o outro à nossa frente, é dar-lhe uma prioridade maior que a nós próprios. É dar aquilo que de mais essencial temos, nós, por inteiro. É dar-lhe o nosso tempo, não fingir que ouvimos as suas preocupações, mas escutá-lo de forma verdadeira e atenciosa, é deixarmos de fazer algo nosso para passar mais tempo com quem amamos, pois, o tempo não volta para trás, e dar o nosso tempo a alguém é dar algo precioso. Amar é rezar por quem amamos em vez de nos preocuparmos apenas as nossas exigências, é ficar feliz com o sucesso alheio mesmo que isso nos tire protagonismo. Amar é desejar o bem a quem pratica o mal, rezar pela sua conversão e amparar na queda, é ajudar todo e qualquer indivíduo a recuperar das suas falhas. Amar é perceber quem somos neste mundo, perceber que somos um todo e não partes, que sozinhos não somos nada nem ninguém, que nada nos pertence, somos meros peregrinos no caminho do Senhor.

Amar é difícil, e poucos conseguem amar verdadeiramente, apenas gostar.

Bento XVI disse, escreveu e mostrou o que é amar. Sofreu em cada ato de amor porque se dava inteiramente ao próximo e a Deus. As suas atitudes foram o que de mais próximo de santidade se aproximam, e que alguma vez tenha sido visto nos nossos tempos. Faz lembrar o percurso de Jesus, também ele incompreendido, gozado e maltratado apenas porque nos amou e salvou. Atitudes muito contrárias à maioria em cada época, e por isso rejeitadas e mal interpretadas.

Que este exemplo tão próximo permaneça na nossa memória e nos transforme, para que também nós possamos ser exemplo a transmitir o ato de amar.


Raquel Assis, in Voz de Lamego, ano 93/08, n.º 4688, 11 de janeiro de 2023

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