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A alegria de acordar todos os dias

Uma vida feliz é uma vida agradecida. Uma vida agradecida, à partida, é uma vida feliz, balizada pelas contingências temporais. Não é uma máxima, é algo que podemos constatar no nosso quotidiano. Quando sabemos agradecer ou descobrimos algo para agradecer, sentimo-nos mais felizes, multiplicamos a paz e o sentido da vida. Por outro lado, as pessoas felizes, creio, tendem a agradecer com mais facilidade. É um rio com duas margens, a água que corre faz germinar vida e a vida alimentada, preenchida, produz frutos, produz mais vida. A alegria gera gratidão. A gratidão multiplica a alegria.

Na JMJ 2023, o Papa Francisco sublinhou a alegria que se vive e se comunica aos outros. A alegria que decorre do amor! Quem ama transborda de alegria e quer que o seu amor seja visto, festejado, apreciado. “Maria vai porque ama e «quem ama voa, corre feliz». Isto é o que o amor nos faz. A alegria de Maria é dupla: acabara de receber o anúncio do anjo de que acolheria n’Ela o Redentor e também a notícia de que a prima estava grávida. Interessante! Em vez de pensar em Si mesma, pensa na outra. Porquê? Porque a alegria é missionária, a alegria não é para ficar numa pessoa, mas para levar alguma coisa”.

Acerca do desafio do anúncio do Evangelho de Jesus Cristo, diz Bento XVI: “A alegria exige ser comunicada. O amor exige ser comunicado. A verdade exige ser comunicada. Quem recebe uma grande alegria não pode retê-la simplesmente para si, deve transmiti-la. O mesmo vale para o dom do amor, para o dom do reconhecimento da verdade que se manifesta… falamos d’Ele [Jesus Cristo] porque sentimos o dever de transmitir a alegria que nos foi dada”.

A vida precisa de ser preenchida, não com coisas, mas com um propósito. As coisas adiam, disfarçam, escondem, distraem-nos do que precisamos para ser gratos e felizes. Os bens (materiais) tornam a vida mais cómoda, e bem, mas não saciam os nossos anseios e sonhos.

Robin Sharma, que já citámos noutras ocasiões, na sua obra “O monge que vendeu o seu Ferrari”, relaciona a vida com o riso e o amor: “Viver um dia sem riso ou sem amor era um dia sem vida. Uma paixão ardente é o melhor combustível para os teus sonhos. Aqui, na nossa sociedade, perdemos a paixão. Não fazemos as coisas por gostarmos. Fazemo-las por obrigação. Esta é a fórmula para a infelicidade… Estou a falar de paixão pela vida”. E sublinha a urgência de “recuperar a alegria de acordar todos os dias cheio de energia e entusiasmo”. É curioso que “uma criança de quatro anos ri, por dia, em média 300 vezes; um adulto, em média, quinze!”.

Não há receitas, há caminho a fazer-se.

“Todavia, saber o aspeto divertido da vida e a sua dimensão alegre, e não levar tudo tragicamente, isso, eu considero importante – diria até que é necessário… Um escritor afirmou que os anjos podem voar porque não levam as coisas tão a sério… Talvez pudéssemos voar um pouco mais se não nos déssemos tanta importância” (Joseph Ratzinger/Bento XVI). Como diria Jesus Cristo, a cada dia a sua preocupação, vivamos o hoje, não antecipemos o amanhã. Ou no dizer eloquente de Madre Teresa de Calcutá: “Nunca estejais tristes. Sorri, pelo menos, cinco vezes por dia. Basta um sorriso, um bom-dia, um gesto de amizade… A verdadeira santidade consiste em fazer a vontade de Deus com um sorriso”. Começar a agradecer por acordarmos… despertando a alegria que há em nós para comunicar aos outros!


Pe. Manuel Gonçalves, in Voz de Lamego, Ano 93/42, n.º 4722, de 20 de setembro de 2023

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