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Natal… Já paraste de correr?

O Natal começou no dia 1 de novembro! Sim, no dia 1 de novembro, pois no dia 31 de outubro foi o Halloween e, portanto, não podia começar nesse dia! Breve troca de palavras que colocam a descoberto duas perspetivas de Natal. Com efeito, o Natal, liturgicamente falando é a 25 de dezembro, sendo dia de Natal até ao primeiro dia do novo ano. Oito dias como se se tratasse de um grande dia, porque gigantesco é o mistério que expressa o Natal, o nascimento de Jesus, Deus connosco, a Omnipotência na fragilidade de um bebé, a grandeza na pequenez de um Menino, envolto em panos, deitado numa manjedoura, com um reduzido número de pessoas, apenas Maria e José, a que se juntarão os Anjos e os Pastores. Um mistério enorme que faz com que o Céu esteja na terra e a eternidade se encolha e entre no tempo e na história e Deus, criador de tudo, Se torne criatura igual a nós, encarnando.

Este é o Natal que celebramos, não o que o homem quer, nem quando o homem quer, mas o Natal de Jesus, por vontade de Deus, numa economia salvadora em que Deus nos assume por inteiro, na nossa finitude e mortalidade, dando-nos o Seu filho amado, para n’Ele nos descobrirmos e sermos também filhos amados e, consequentemente, irmãos de Jesus e, na mesma ordem de razão, irmãos uns dos outros. Depois até podemos dizer que é Natal quando o homem quiser, se fizermos com que os valores do Natal se estendam e concretizem todos os dias, na humildade de quem se dá, se faz próximo, no propósito firme de amar e cuidar, gastando-se, ao jeito d’Aquele Menino, para que os outros tenham vida em abundância.

Mas voltemos à afirmação da jovem que, por graça, referia que o Natal já começou há muito, com a azáfama dos dias, com a antecipação de compras, de iluminações, de multiplicação de músicas natalícias, de apelo frenético em procurar os presentes para amigos secretos, para os familiares, para os colegas de trabalho. Tudo muito a correr. Ou nos antecipamos e corremos ou corremos à última da hora, fixados, ansiosamente, em concretizar o que não conseguimos fazer nos dias, semanas ou meses anteriores.

É uma pressa ansiosa. Não sei se faz bem ou mal à saúde! Alguma azáfama poderá ser um despertar para o que que nos rodeia ou, melhor ainda, para aqueles que nos rodeiam. Vale mais uma feira de ano do que as feiras do ano inteiro! Talvez hoje já não seja tanto assim, mas naquela feira específica havia mais vendedores e mais compradores, mais oferta e mais procura, uns escoavam mais produtos, outros conseguiam comprar a preços mais em conta. Uma festa como o Natal é como uma feira de ano, em muitos aspetos! O problema da ansiedade é perdermos de vista o essencial, o que nos traz ao Natal, o que o Natal nos traz: Deus que Se apequena e Se deixa ver, amar, cuidar, perseguir, aprisionar, abraçar!

Terá chegado a ressaca?

Será tempo de espreguiçar, de descansar, de fazer um pouco de dieta e de exercício?

Sem esquecer que umas horas mais e chega a azáfama da passagem do ano, passando-se do aconchego da família para os aglomerados com amigos e entre desconhecidos! E viva la vida!

Paramos depois? Talvez! Como cristãos e recuperando o sentido do Natal, como acontecimento, milagre e mistério, não podemos parar! O lema escolhido para a JMJ 2023 foi “Levantou-se e partiu apressadamente” (Lc 1, 39). Maria, sendo-lhe anunciado que ia ser Mãe do Filho de Deus, e que a sua parenta Isabel também estava grávida, parte e vai apressadamente. Dizia o Papa em Lisboa que a alegria de Maria é uma alegria missionária, uma alegria que brota do amor, uma pressa em levar Jesus. “Maria vai porque ama e ‘quem ama voa, corre feliz’. Isto é o que o amor faz”.

Sem ansiedade, mas sempre prontos e apressados para levar a paz, para levar Jesus, para criar fraternidade!


Pe. Manuel Gonçalves, in Voz de Lamego, ano 94/08, n.º 4736, de 27 de dezembro de 2023.

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