Na sua visita apostólica à Mongólia, o santo Padre, numa das suas primeiras intervenções, serviu-se deste ditado popular, próprio daquele lugar, para falar em paz e em esperança, em compromisso com a verdade e com a justiça.
Há uma máxima semelhante entre nós: para lá das nuvens o Céu, continua a brilhar. Num provérbio como no outro sublinha-se a relatividade dos acontecimentos presentes e a perenidade do Céu. Apesar de todas as adversidades, além de todas as tempestades, Deus permanece próximo, o Seu amor é sem limites.
“Oxalá passem as nuvens escuras da guerra, sejam varridas pela firme vontade duma fraternidade universal, na qual as tensões se resolvam com base no encontro e no diálogo, e a todos sejam garantidos os direitos fundamentais! Aqui, no vosso país rico de história e de céu, imploremos este dom do Alto e trabalhemos juntos para construir um futuro de paz”.
Um desafio tantas vezes repetido pelo Papa Francisco, em ambientes variados, e por outras pessoas de boa vontade, mas com muita lentidão nos gestos e na concretização. A cultura do encontro e do diálogo estende-se também à “cultura da solidariedade, do respeito por todos e do diálogo inter-religioso, trabalhando pela justiça, a paz e a harmonia social”.
Como escreveu no livro de honra, no palácio presidencial, o papa fez-se “peregrino da paz, neste país jovem e antigo, moderno e rico de tradição, tenho a honra de percorrer as vias do encontro e da amizade que geram esperança. Que o grande céu claro que abraça a terra mongol ilumine novos caminhos de fraternidade”.
O caminho da paz é árduo, mas não se fará sem conversão, ou melhor, sem amor, sem a humildade. Na semana em que assinalamos a Festa da Natividade de Nossa Senhora, reconhecendo-a, antes de mais, como Mãe, Rainha da Paz, cuja missão é acolher Jesus e dá-l’O ao mundo. Deus opera maravilhas na humildade de Maria, assumindo-Se na nossa carne e assumindo-nos. “Deus ama a pequenez e gosta de realizar grandes coisas mediante a pequenez, como testemunha Maria… Olhemos para Maria, que, na sua pequenez, é maior que o céu”.
Maria, é a sua missão, orienta-nos para Jesus, aproxima-nos d’Ele. Com efeito, prossegue o Papa, “é preciso regressar à fonte, ao rosto de Jesus, à sua presença que se há de saborear: é Ele o nosso tesouro, a pérola preciosa pela qual vale a pena gastar tudo”.
É esta também a missão da Igreja, aproximar de Jesus e como Ele viver em lógica de serviço e de amor. A Igreja anuncia o Evangelho da alegria, da esperança e da paz, não para dispor de poder, mas para construir fraternidade. “Os governos e as instituições seculares nada têm a temer da ação evangelizadora da Igreja, porque esta não tem uma agenda política a concretizar, mas conhece só a força humilde da graça de Deus e duma Palavra de misericórdia e verdade, capaz de promover o bem de todos”.
Concluímos novamente com as palavras do Papa Francisco, apresentando Maria como “apoio seguro”. Com efeito, na Mongólia, ela se encarnou numa lixeira. “Naquele lugar dos detritos, apareceu esta bela estátua da Imaculada: Ela, sem mácula, imune do pecado, quis chegar tão perto a ponto de ser confundida com os desperdícios da sociedade, para que, da imundície do lixo, emergisse a pureza da Santa Mãe de Deus”.
As palavras do santo Padre fazem ecoar a interpelação de Jesus: o que fizerdes ao mais pequenos dos meus irmãos é a Mim que o fazeis. A paz inicia-se aqui, no amor que se faz serviço, ao cuidado dos mais frágeis.
Pe. Manuel Gonçalves, in Voz de Lamego, Ano 93/40, n.º 4720, de 6 de setembro de 2023