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Ser indiferente é ignorar

“Não há nada mais duro do que a suavidade da indiferença” Juan Montalvo

Ser indiferente é ignorar, é ser frio, insensível, é ter uma pedra do lugar do coração.

O Papa Bento XVI afirmou que os cristãos não devem ser “mornos e indiferentes”, já que esse é o “maior perigo” para o cristianismo na atualidade. Considerava “intoleráveis” a “indiferença e o encerramento no próprio egoísmo”.

“Mesmo neste tempo de interdependência global, pode verificar-se como nenhum projeto económico, social ou político substitui aquele dom de si mesmo ao outro, que brota da caridade.”

A falta de misericórdia e de caridade é um pecado enorme, Deus “ouve ainda hoje o grito das multidões famintas de alegria, de paz, de amor”.

Pior do que não querer ver, do que se importar com si próprio, é ver as dificuldades do outro, e ainda assim, ficar como que parcialmente cego no que ao outro diz respeito.

Muito antes destas palavras de Bento XVI, já Paulo VI afirmava que o mundo atual sofre sobretudo de falta de fraternidade: «O mundo está doente. O seu mal reside mais na crise de fraternidade entre os homens e entre os povos, do que na esterilização ou no monopólio, que alguns fazem, dos recursos do universo»

Bento XVI caracterizava o bem como aquilo que suscita, protege e promove a vida, a fraternidade e a comunhão. Assim a responsabilidade pelo próximo significa querer e favorecer o bem do outro, desejando que também ele se abra à lógica do bem; interessar-se pelo irmão quer dizer abrir os olhos às suas necessidades. A “fé não é um facto natural, cómodo, óbvio”, pelo que “é necessário humildade para aceitar que se precisa que um Outro me liberte”.

“É necessário sair da ilha para ver a ilha. Não nos vemos se não sairmos de nós.” José Saramago

Temos de sair da nossa esfera, sair do nosso campo de visão tão cómodo, testar o lugar do outro, tentar obter o campo de visão do outro, só assim, conseguiremos ter uma verdadeira visão do mundo que nos rodeia, só assim poderemos estar atentos, ver, e fazer o bem, ao outro e a nós próprios, porque ao fazer ao outro, estamos a caminhar para Deus.


Raquel Assis, in Voz de Lamego, ano 95/39, n.º 4816, de 27 de agosto 2025

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