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És mais do que a roupa que vestes

Alguém interpelou Jesus para que Ele interviesse na disputa da herança entre dois irmãos. Depois de responder que ninguém o constituiu árbitro de partilhas, prossegue, dizendo: cuidado “mesmo que alguém viva na abundância, a sua vida não depende dos seus bens (Lc 12).

Na mesma perspetiva, não é o que vestimos que nos define, mas a nossa vida, o nosso interior, as nossas escolhas, a postura com que nos relacionamos com os outros. A roupa também nos comunica, mas pode não passar de um reles acessório, já que nascemos despidos de roupa e havemos de partir com qualquer roupa que escolheram para nós.

Cuidar da aparência poderá ser sinal do cuidado que temos em nos apresentarmos diante dos outros e os acolhermos. Não vestimos da mesma forma se andamos por casa ou se vamos à rua, se estamos entre família ou recebemos visitas, não vestimos do mesmo modo para ir passear ou ir a um evento formal. Porém, o decisivo, como víamos na semana passada, é o teu coração, a tua vida, a tua disposição para seres dócil, delicado, atencioso para com o outro. É o teu coração que conta. Como vestires o coração assim será a tua veste diante dos outros.

«Por isso vos digo: não vos preocupeis com a vossa vida, quanto ao que haveis de comer ou beber, nem com o vosso corpo, quanto ao que haveis de vestir. Não é a vida mais do que o alimento, e o corpo mais do que a roupa? Fixai o olhar nas aves do céu: não semeiam, nem ceifam, nem recolhem em celeiros, e o vosso Pai celeste as alimenta. Não valeis vós mais do que elas? Quem de vós, por mais que se preocupe, é capaz de acrescentar um pouco que seja ao tempo da sua vida? E porque vos preocupais com a roupa? Observai como crescem os lírios do campo: não se afadigam nem fiam. Digo-vos que nem Salomão, em toda a sua glória, se vestia como um deles. Ora, se Deus veste assim a erva do campo, que hoje existe e amanhã é lançada ao forno, quanto mais não fará por vós, gente de pouca fé? Por isso, não vos preocupeis, dizendo: “Que havemos de comer?”, “Que havemos de beber?”, ou “Que havemos de vestir?”, pois os pagãos é que andam à procura de todas essas coisas. O vosso Pai celeste bem sabe que precisais de tudo isso. Procurai, primeiro, o reino de Deus e a sua justiça, e tudo isso vos será dado por acréscimo. Portanto, não vos preocupeis com o dia de amanhã, pois o dia de amanhã tratará das suas próprias preocupações. A cada dia bastam os seus próprios males» (Mt 6, 25-34).

Primeiro o reino e a sua justiça, o resto virá por acréscimo. A vida não depende da abundância dos bens, mesmo que estes sejam essenciais e necessários e, em muitas situações, facilitem a vida, criando possibilidades imensas, também, para ajudar os outros. Mas se cuidares do reino, da tua vida interior, da verdade, da paz, se estiveres disposto a amar e a cuidar, a partilhar e a compadecer-te, a servir e ajudar… o teu caminho levar-te-á a Jesus, mas igualmente cimentará a tua felicidade.

“Meus irmãos, não façais aceção de pessoas: a fé no nosso glorioso Senhor Jesus Cristo não o permite. Suponhamos que, numa vossa assembleia, entra um homem com anéis de ouro e com uma veste esplêndida, e entra também um pobre com uma veste encardida. Se olhardes para aquele que enverga uma veste esplêndida e lhe disserdes: «Senta-te aqui, neste bom lugar», ao mesmo tempo que dizeis ao pobre: «Fica de pé» ou «Senta-te aí, abaixo do estrado dos meus pés», não estareis a fazer discriminações entre vós, e a tornar-vos juízes com maus critérios?” (Tg 2, 1-4). São Tiago provoca-nos constantemente, a fé expressa-se, traduz-se e comprova-se no dia a dia, na prática. Uma fé sem obras é morta. Não adianta se te vestes esplendidamente e depois és um traste para a tua família, para os teus vizinhos, para os teus colegas de escola ou de trabalho! Trata de (re)vestir o teu coração daquele amor com que Jesus dá a vida por ti.


Pe. Manuel Gonçalves, in Voz de Lamego, ano 95/13, n.º 4790, de 12 de fevereiro de 2025

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