O tema escolhido para do Dia Mundial das Missões, no próximo Domingo, 22 de outubro, remete-nos imediatamente para o encontro de Jesus com os discípulos de Emaús (Lc 24, 13-35).
«Aconteceu que, enquanto eles conversavam e debatiam, o próprio Jesus, aproximando-se, pôs-se a caminhar com eles. Os seus olhos, porém, estavam impedidos de O reconhecer». Depois de três intensos anos de pregação, anúncio do Evangelho da Alegria e da Caridade, Jesus foi preso, condenado e morto. Chegou a desilusão para aqueles que esperavam que fosse o libertador. Com efeito, o povo judeu viveu, ontem como hoje, dias não fáceis, ora expulsos da sua terra, ora espezinhados por potências estrangeiras. No tempo de Jesus, o povo estava sob domínio do império romano. Respeitando alguma autonomia, cultural e religiosa, os romanos sobrecarregavam com impostos os povos sob a sua alçada, contando também com os impostos para as autoridades locais. A esperança de Israel renovou-se ao longo do tempo, sobretudo com os profetas, com o anúncio de um libertador! Para um povo sujeito a tantas provações, contrariedades, perseguição, violência, fome, exílio, a esperança messiânica é um desafio permanente, para que as suas gentes não desistam de um reino que lhes permita sentirem-se em casa.
A chegada de Jesus gera novamente ânimo entre o povo humilde, simples e pobre. Jesus espalha o perfume da bondade, da inclusão e da paz. Nas palavras e gestos, Ele entusiasma uns poucos, as multidões ouvem-no com agrado. Jesus abre brechas, suscita admiração, curiosidade, mas também inveja e perseguição. O convívio próximo e intimista com as pessoas oriundas das periferias, mulheres, crianças, doentes, publicanos, pecadores, estrangeiros suscita medo nas autoridades judaicas. Os 12 e demais discípulos acalentam a esperança dos simples: este homem é bem capaz de ser o Messias esperado! A expectativa dos apóstolos terá de ser curada das pretensões políticas e do desejo do poder.
De repente, em poucos dias, Jesus é preso, julgado, condenado e morto. Será que tudo não passou de uma ilusão? Será mais um líder fracassado pela realidade?
Os discípulos de Emaús espelham a desolação de todos os discípulos e das multidões que O acompanharam na entrada triunfal em Jerusalém. Já lá vão três dias e ao terceiro dia parece que as trevas e o desencanto prevalecem. Afinal, sem que se apercebam, Jesus caminha com eles, interrogando-os, fazendo-os refletir e ver além das aparências, e a perceber o coração, a interioridade onde Deus se manifesta. Voltam cabisbaixos, tristes! Estes, comos os outros, não sabendo muito bem o que pensar e sentir, regressam a suas casas, fechando-se, com medo que lhes suceda o mesmo que ao Mestre.
Quando chegam perto da povoação, convidam Jesus para pernoitar, alimentar-se e resguardar-se da noite. “E aconteceu que, quando Ele se reclinou com eles à mesa, tomando o pão, pronunciou a bênção e, partindo-o, deu-lho. Abriram-se-lhes os olhos e reconheceram-no, mas Ele deixou de lhes ser visível. Diziam, então, um ao outro: «Não nos ardia o nosso coração quando Ele no caminho nos falava, quando nos abria as Escrituras?»”.
Imediatamente, levantando-se, na mesma hora, voltaram a Jerusalém onde encontraram os Onze reunidos e contaram-lhes o que sucedeu “e como Ele se lhes dera a conhecer na fração do pão”.
A Eucaristia realiza em perfeição o encontro de Deus com o homem e do homem com Deus. O encontro com Jesus, se há encontro autêntico, transforma, contagia, provoca a missão. Podemos guardar a tristeza, mas a alegria transborda, não a podemos reter, precisamos de a comunicar e de a partilhar. A Eucaristia, bem vivida, gera missão.
Pe. Manuel Gonçalves, in Voz de Lamego, ano 93/46, n.º 4726, de 18 de outubro de 2023.