…o voto sem escrutínio e pela memória
Ainda não há data oficial para as eleições autárquicas, mas sabemos que, no mais tardar em meados de outubro deste ano, seremos novamente convidados para preencher a matriz de voto. Isto depois das legislativas, que serão em maio, e das presidenciais, que serão em janeiro de 2026. O povo português não tem tido tempo para se esquecer do frenesim das campanhas políticas, porque saltamos de eleição em eleição. Em Lamego, porém, as autárquicas vão ter, este ano, um sabor diferente, com um regresso ao passado, o que significa, desde logo, que os partidos clássicos não souberam conjugar o verbo “renovar” e apostaram em candidaturas do passado.
Francisco Lopes e José António Santos têm um lugar próprio na história autárquica lamecense que praticamente dispensa o resultado das próximas eleições, mesmo que qualquer um deles vença de forma categórica ou pela margem de cinco votos. Na verdade, falamos de dois candidatos que conhecem de tal forma o que é o poder autárquico lamecense ao ponto de terem repetido mandatos de quatro anos, em épocas e contextos diferentes.
Não me interessa discorrer sobre os efeitos e méritos de cada um destes candidatos nesta altura, porque a campanha ainda nem sequer saiu do adro, mas confesso que estou muito curioso por perceber como é que o incumbente vai relacionar-se, no palco das ideias políticas, com o seu principal adversário que regressa depois de um certo exílio político. A experiência de ambos é inegável.
Se tivéssemos uma comunicação social local forte – ou pelo menos se existisse – teríamos seguramente um escrutínio suficientemente capaz de nos oferecer um contexto amplo daquilo que foi a governação de José António Santos, entre 1997 e 2005, e do período mais recente em que Francisco Lopes esteve no poder, mesmo depois do seu regresso. Não temos essa memória, infelizmente. Não temos dados substantivos que nos permitam ter essa latitude. Pensamos no que achamos que aconteceu. Olhamos para o cimento que está instalado na cidade. E depois logo se vê. O cidadão não tem essa capacidade, nem tempo ou disponibilidade. Vai decidir o voto em função do que se lembra, do que se comenta no café, do que diz aquele cunhado maldisposto ou mais inflamado. E aqui começa o famoso palco das “perceções”. Entretanto, aparecem as eleições e temos de ir votar.
Fábio Ribeiro, in Voz de Lamego, ano 95/22, n.º 4799, de 16 de abril 2025