Vivemos o Jubileu do nascimento de Jesus, 2025 anos depois parece que a Luz das Nações, Jesus, o Filho bem-amado de Deus, que chegou a todo o povo, através de Israel, está longe de se concretizar como soberania do amor, do serviço, da misericórdia.
O povo da eleição, Israel, descobriu-se predileto, mas, cedo tomou consciência que tal era em função da salvação de todos os povos. Os jubileus, na bíblia, pressupõem e exigem a justiça, não apenas o descanso das terras e animais, mas a devolução das terras aos proprietários originais, a libertação dos escravos, a liberdade devolvida a quem a perdeu para pagar dívidas. Desta forma, o jubileu repõe a justiça, relembra que a terra tem proprietários, mas não absolutos, pois o Senhor da Vida, do tempo e da história é o próprio Deus. A criação é dom de Deus, não é usurpável por ninguém, já estava quando chegamos e estará depois de partirmos, caber-nos-á cuidar para que outros possam usufruir do que é de todos. É urgente conjugar a propriedade privada com o bem comum.
“O Senhor disse a Abrão: «Deixa a tua terra, a tua família e a casa do teu pai, e vai para a terra que Eu te indicar. Farei de ti um grande povo, abençoar-te-ei, engrandecerei o teu nome e serás uma fonte de bênçãos. Abençoarei aqueles que te abençoarem, e amaldiçoarei aqueles que te amaldiçoarem. E todas as famílias da Terra serão em ti abençoadas». Abrão partiu, como o Senhor lhe dissera, e partiram todos para a terra de Canaã… Os cananeus viviam, então, naquela terra” (Gen 12, 1-9).
A promessa contempla a descendência e a terra, mas também a bênção que se alarga, se expande, se dilata para todas as famílias da terra. Gradualmente, os judeus tomarão consciência que, embora sejam o povo eleito, Deus não excluiu os povos estrangeiros.
Na apresentação de Jesus no templo, por ocasião dos dias da purificação de Nossa Senhora, o velho Simeão faz transparecer a promessas que ora se cumprem: «Agora, Senhor, podes deixar partir em paz o teu servo segundo a tua palavra, porque os meus olhos viram a tua salvação que preparaste diante de todos os povos: luz para revelação aos pagãos e glória do teu povo, Israel».
São Lucas diz-nos quem é este homem: “Havia em Jerusalém um homem cujo nome era Simeão, um homem justo e piedoso, que esperava a consolação de Israel, e o Espírito Santo estava sobre ele. Fora-lhe revelado pelo Espírito Santo que não veria a morte antes de ver o Cristo do Senhor. E veio ao templo movido pelo Espírito”.
Simeão desvela o mistério que envolve este Menino. Ao longo da Sua vida pública, Jesus elucida os seus discípulos e, com eles, também a nós, sobre o reino de Deus e os seus destinatários. O reino é espiritual, um reino de amor e de paz, mas com implicações na vida concreta. Ele, o Messias, o filho de Deus, vem para todos, especialmente para os excluídos, os pobres, os pecadores. Inclui quem está de fora e vive à margem. Não pede bilhete de identidade nem informações sobre nacionalidade. A salvação é para todos. O mistério da Sua morte e ressurreição é entrega de amor em favor de todos os povos, da humanidade inteira. N’Ele, no mistério pascal, se realiza a promessa, a bênção de Deus chega a todos os povos, de todos os povos, Jesus forma uma só família para Deus. Mas caber-nos-á a nós emprestar os nossos lábios, o nosso coração e as nossas mãos, a fim de Ele, connosco e através de nós, concretizar este Reino que já iniciou. As dores do parto ainda se fazem sentir e, por vezes, são tão fortes e insistentes que até parece que a vida nova não vai chegar. Mas vai, essa é a garantia de Jesus, é a nossa esperança.
Pe. Manuel Gonçalves, in Voz de Lamego, ano 95/38, n.º 4814, de 20 de agosto 2025