Encontro/convívio das “Gentes” das paróquias da União de Freguesias de Bigorne, Magueija e Pretarouca
O dia amanheceu chuvoso e zangado, talvez porque a noite não tinha sido muito tranquila. O vento assobiava raivoso, mas o dia foi clareando e o vento acalmando.
É que estamos no fim de agosto… O frio e as primeiras chuvas começaram a beijar a terra, ainda a medo.
É também neste dia 31 de agosto que teve “lugar” e “tempo” o já habitual encontro paroquial das “gentes” que nasceram e vivem, ou de alguma forma, se sentem ligadas e atraídas pelo bem-estar que se sente por estas bandas.
Este ano o lugar escolhido foi o Sardinho na paróquia de Magueija.
É uma iniciativa que tem como objetivo fortalecer a união e a comunhão entre todos.
São muitos os que trabalharam para que este encontro se tornasse uma realidade sentida, apoiada e vivida.
É seu mentor o Sr. Cónego Hermínio que salientou e agradeceu:
1 – A boa vontade das pessoas – um grupo que gosta de servir sem esperar receber algo em troca – apenas por dedicação e gosto em servir – isto é ser e estar em Igreja. Foram muitos os que se envolveram em diversas tarefas: cozinheiros que confecionaram uma bela, saborosa e apetitosa refeição, os que trataram dos grelhados, serviços de mesa, lavagem das louças, do arranjo dos espaços para que todos se sentissem com um mínimo de conforto.
2 – A colaboração da Junta da União de Freguesias de Bigorne, Magueija e Pretarouca na pessoa do seu presidente Pedro e elementos do seu executivo que se empenharam ativamente, suportando todas as despesas necessárias ao funcionamento deste encontro e assegurando o transporte das pessoas.
3 – Dr. Mário e família que cederam o espaço magnífico e todo o trabalho logístico: cedência de luz e infraestruturas instaladas, visitas aos moinhos que ladeiam as duas margens do rio Balsemão que corre neste espaço, tornando-o vivo, fresco e belo quer pelo acidentado do relevo, quer pela vegetação frondosa e verde, convidando ao descanso e onde é possível fazer silêncio e escutar o murmurar contínuo da água que corre por entre os penedos e pedregulhos gastos pela sua erosão do tempo e servem de tapete ao leito do rio.
Foi um gesto muito generoso, tendo o Dr. Mário referido que é também uma forma de levar as pessoas ao rio.
4 – Centro de Tropas de Operação Especiais de Lamego que puseram à disposição da paróquia e transportaram todas as mesas e cadeiras que tinham nos seus quartéis.
5 – Pessoas destas comunidades paroquiais que acederam ao convite para estarem e participarem neste encontro, não esquecendo todos aqueles que aqui residem, amigos e familiares que também têm aqui as suas raízes.
“Todos, todos, todos”, citando o saudoso papa Francisco, foram convidados pelos mais diversos meios existentes. Só não compareceram os que não puderam ou não quiseram. E foram muitos, muitos os que compareceram.
Todos contribuíram para que este encontro tivesse a dimensão que teve e corresse da forma como correu. Por uma ou outra razão, estamos todos de parabéns, mas não podemos esquecer o calor humano e dedicação com que as gentes da paróquia de Magueija receberam todos os que quiseram e puderam estar presentes. Para eles uma palavra sentida de muita gratidão. OBRIGADO.
Tudo isto foi bom, foi mesmo muito bom, mas o carro ou carruagem não anda sem motor e o motor desta carruagem foi o Sr. Cónego Hermínio que não desiste nem se cansa de trabalhar para que as pessoas destas paróquias sejam uma comunidade que vive e se sente em comunhão com todos, sendo assim uma verdadeira Igreja que caminha ao encontro de Cristo. Esta comunidade está já a ser uma Igreja dinâmica.
Ao referir-se a esta gente que caminha – este encontro começou com uma caminhada para aqueles que o puderam fazer – e que participa e se entrega sem esperar receber nada, o Sr. Cónego Hermínio referiu na sua homilia que no evangelho de hoje, o evangelista São Lucas relata que Jesus que participava num banquete observou que todos queriam ocupar o primeiro lugar. Então contou-lhes uma parábola e disse-lhes: “… Quem se exalta será humilhado e quem se humilha será exaltado” e foi mais longe… ” Quando organizardes um banquete não convideis só quem pode retribuir, convidai também os pobres, os esquecidos, os excluídos que são estes que nos ensinam algo essencial”.
Tal como no banquete, Jesus veio hoje sentar- se à nossa mesa e fala ao nosso coração. Vem dizer-nos que a alegria verdadeira: Não está em receber, mas em partilhar. Não está em elevar-se, mas em descer ao encontro dos outros.
Neste convívio, estamos a viver exatamente isso. Fizemos uma caminhada sem pensarmos em distinções, diferenciações contemplando a beleza da nossa natureza. Partilhamos a mesa de almoço onde ninguém teve lugar marcado porque o importante não é o lugar, mas sim o “estar”. Visitamos o moinho que executa um trabalho ancestral, mas necessário, mói devagar, grão a grão, o cereal que nos alimenta.
A nossa vida espiritual precisa também de ser moída, trabalhada, transformada em alimento com entrega tal como faz o moinho.
É este o sentido do evangelho: ser humilde cada um no seu lugar. Ser generoso no convite. Todos somos convidados. Jesus convida-nos a alargar o coração como dizia o saudoso papa Francisco. Ser feliz sem esperar recompensa. Sentir alegria de ver o outro feliz por causa do nosso gesto.
Este dia é um sinal daquilo que a Igreja deve ser sempre:
Sinal de gente simples que caminha junta, se alegra por estar unida, que reparte o que tem com humildade e gratidão.
Que este evangelho se torne hoje realidade em nós na forma como caminhamos pelos caminhos da nossa terra e em especial pelos caminhos da vida; na forma como servimos, como abrimos o espaço para alguém que ainda não tenha encontrado o seu espaço na nossa comunidade.
Tal como o rio Balsemão corre junto de nós, também o amor de Deus continue a correr entre nós e através de nós, levando vida frescura e esperança.
Emídio Dias, in Voz de Lamego, ano 95/40, n.º 4817, de 3 de setembro de 2025