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Um bem subaproveitado

“É uma pena que a maioria dos nossos avós vão embora antes de virarmos pessoas que sabem aproveitar uma boa conversa.”

Celebramos o IV Dia Mundial dos Avós no próximo dia 28 de julho, com o tema «Na velhice, não me abandones» (cf. Sal 71, 9).

Na sua mensagem para este dia, o Papa Francisco refere «O Senhor não olha para as aparências (cf. 1 Sam 16, 7), nem desdenha escolher aqueles que, aos olhos de muitos, parecem irrelevantes. Não descarta pedra alguma; antes, as mais «velhas» são a base segura sobre a qual se podem apoiar as pedras «novas» para, todas juntas, construírem o edifício espiritual (cf. 1 Ped 2, 5).»

Infelizmente, cada vez mais os jovens e adultos vivem virados apenas e só para si próprios, descartando tudo aquilo que pode necessitar de um pouco do seu tempo e atenção. Os idosos são assim descartados, encostados num lar ou sozinhos na própria casa sem condições para cuidar de si, sem direito a carinho, atenção, ou cuidado numa simples visita ou chamada telefónica. Nas palavras do Santo Padre «… há hoje muitas mulheres e homens que procuram a própria realização pessoal numa existência tão autónoma e desligada dos outros quanto possível. A recíproca pertença está em crise, acentua-se o individualismo; a passagem do «nós» ao «eu» constitui um dos sinais mais evidentes dos nossos tempos.»

A principal e verdadeira causa de morte entre a população idosa não são as patologias crónicas ou infeções respiratórias… é a solidão, o abandono!

Numa mensagem para o Dia Mundial dos Avós, a escritora Isabel Stilwell deixou uma mensagem ao Departamento Nacional da Pastoral Familiar como avó: os netos são o melhor antídoto para o envelhecimento, o melhor creme anti rugas, acreditem. Voltamos a trepar às árvores, a entrar na água gelada do mar, a fazer guerras de almofadas, a ver o mundo através dos seus olhos – e que espantoso nos parece, como se o observássemos pela primeira vez.

A morte doloroso e solitária de quem já trabalhou tanto, cuidou tanto, amou tanto, pode e deve ser evitada. É o tempo e o amor que dedicamos às coisas que as torna importantes e indispensáveis. Só estamos aqui hoje graças ao sacrifício e ao cuidados dos mais velhos para com os nossos pais e para connosco. Retribuir é o mínimo que podemos fazer em modo de agradecimento.

Um idoso, um avô, é todo um mundo de história e sabedoria. É alguém que passou por tudo e que nos consegue predizer as melhores atitudes na maioria das situações possíveis. É uma autêntica enciclopédia essencial para a nossa sobrevivência, é lá que encontramos informação tão útil e rara que nem o Google consegue fornecer.

Ter um bem tão raro e não usufruir dele, deixá-lo ao abandono quando os poucos anos de vida dele poderiam ser muito mais risonhos e úteis, sendo assim prolongados, é uma perda para ambos.

A quem tiver avós ou idosos por perto, sejam eles vossos conhecidos ou não, aproveitem ao máximo a sua companhia, sabedoria e amor. Falem com eles, aprendam… eles estão ansiosos por receber a nossa atenção, em nos ensinar, em nos oferecer um sorriso de esperança e ajuda para o futuro.

Passarem os últimos dias aconchegados num abraço é essencial para eles que já deram tanto de si, e para nós crescermos e nos tornarmos melhores pessoas e melhores cristãos.


Raquel Assis, in Voz de Lamego, ano 94/35, n.º 4763, de 24 de julho de 2024.

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