Há muito que a essência do Natal foi desvirtuada. Hoje, é apenas uma época de consumismo desmesurado, onde abunda o egocentrismo, a solidão e o abandono.
Vivemos estes dias num lado completamente oposto ao espírito que o criou. Os poucos que ainda o vivem na sua pureza são os mais pobres e os mais solitários que tentam chamar o vizinho para que deixem de ser dois sozinhos para serem dois, onde quem tem pouco dá o verdadeiro valor a um sorriso, a uma partilha, a um convite como de fosse a melhor coisa do mundo, o melhor presente… e é! Nós é que deixámos de perceber isso!
A mudança parte de cada um de nós, mostrar que a simplicidade de um gesto com amor pode ser o melhor presente, e fazer com que o gesto passe a ser repetido por outros pessoas ano após ano. Um tempo de partilha e um abraço sincero é melhor que qualquer garrafa de vinho cara, o beijo daquele que estava sozinho e veio passar o Natal contigo é a maior recompensa, aquele pequeno e simbólico presente feito com as nossas mãos vale muito mais do que aquele casaco daquela loja, a dádiva do perdão e o abraço da paz podem ser muito melhores que aquele gadget de última geração. São as pequenas coisas recheadas de amor, os pequenos gestos sinceros que nos podem encher o coração, a alma e a vida, trazer de novo o Menino Jesus para o nosso lar.
Nesta época de publicidade desenfreada ainda se encontram verdadeiras pérolas, como o caso da MEO, que tem passado nos canais de televisão uma mensagem muito interessante sobre a pureza das atitudes das crianças no que às diferenças de religião ou origens diz respeito: “Na sua inocência, as crianças entendem melhor que muitos adultos aquilo que verdadeiramente importa e nos liga enquanto humanos. Sabem que apesar das diferentes origens, cores, religiões, opiniões e tradições, somos uma só família, formada por muitas famílias do mundo inteiro. Unidos pela mesma vontade de celebrar com aqueles que amamos, as ocasiões mais especiais das nossas vidas.”
Que este Natal seja um marco na mudança de atitude perante o que é o Natal. Saibamos distribuir alegria, abraços, amor e ajuda em vez de presentes comprados com vista a substituir o cuidado com o outro que não existiu durante o ano. Saibamos acolher, não só nesta época, mas dia a dia, os imigrantes que estão junto de nós a tentar dar uma vida melhor aos seus familiares, saibamos partilhar com eles o espírito natalício para que se sintam em casa, acolhidos com amor.
Um Santo Natal a todos!
Raquel Assis, in Voz de Lamego, ano 95/6, n.º 4783, de 18 de dezembro de 2024