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Eu e tu, somos caminho, até morrer!

Não há dois caminhos iguais, pois não existem duas pessoas iguais ou duas vidas iguais. Eu não posso viver a tua vida e tu não podes viver por mim, em meu lugar, substituindo-me! É claro que, ao jeito de Jesus, podemos aliviar a carga dos que caminham connosco e, em muitas situações, carregar parte do fardo dos outros, substituindo-os ou partilhando as suas dores e os seus pesos.

Tu vives a tua vida e eu a minha! Mesmo que queiras trocar, não é possível. Isso não significa que não queira saber de ti e tu de mim, mas trocar de lugar, no que à vida diz respeito, não é opção. Fisicamente, se trocarmos de lugar, continuas a estar no teu lugar, ainda que novo, e eu continuo a estar no meu, ainda que num lugar diferente do que aquele ocupava antes.

Cada um de nós faz o seu caminho. Caminhamos juntos, mas não uns em vez dos outros!

Na sua resposta, o Profeta, de Khalil Gibran, quando fala de amor, desafia a comer do mesmo pão, mas não o mesmo pedaço. O pedaço de caminho que percorres, ajuda-me a caminhar, seguindo atrás, indo adiante, ou caminhando paralelamente. Sozinhos perdemos o norte, a orientação, acabaremos por duvidar de nós e da certeza do caminho em que estamos.

Temos uma identidade, preocupações e anseios específicos, sonhos e projetos determinados. Como crentes, somos pedras vivas. Cada um de nós é peça importante na construção do Reino de Deus. Contudo, o nosso caminho, como cristãos, há de levar-nos a Jesus Cristo, é Ele a Pedra Viva. E assim, o nosso caminho, na sua dimensão pessoal, vai-nos aproximando de Jesus Cristo, o Caminho, a Verdade e a Vida, inserindo-nos na comunidade crente, na dinâmica comunitária da fé. Juntos formamos o Corpo de Cristo que é a Igreja, como pedras vivas, formamos o Templo santo do Senhor.

Cada um de nós faz o seu caminho. Caminhamos juntos, mas não uns em vez dos outros!

Olhando para o lado, não vendo ninguém, o caminho torna-se desértico, arenoso. Com os outros, e com Deus no nosso caminho, tudo se torna mais luminoso, mais seguro, ainda que as dificuldades persistam. Sabemos com Quem caminhamos e para onde vamos. O nosso caminhar torna-se mais decidido.

O lema episcopal de D. Joaquim Dionísio, que será ordenado Bispo no próximo Domingo, 16 de julho, leva-nos ao caminho de Emaús: “E Jesus caminhava com eles” (Lc 24, 15). Naquele dia, dois dos Seus discípulos, desencantados, regressam às suas vidas anteriores. Jesus tinha sido um lampejo de esperança, uma luz que os guiava, um caminho a percorrer, mas foi morto. Teria sido apenas uma ilusão? Juntaram os seus caminhos, as suas vidas, a Jesus. Que fazer agora que Ele foi morto? No caminho que faziam, ou, quem sabe, nos passos dados para trás, Jesus coloca-Se a caminhar com eles e faz-lhes ver que há mais vida pela frente, existe mais estrada a palmilhar e, mesmo que a noite caia, o caminho são eles que o farão, certos de que não estão sozinhos, não estão perdidos, Ele seguirá com eles, mesmo que deixem de O ver.

Há uma vintena de anos, o então Cardeal Joseph Ratzinger (Bento XVI) sublinhava que para o reino de Deus há tantos caminhos quantas as pessoas, o que obviamente não anula o facto de Jesus ser o Caminho, a Verdade e a Vida (cf. Jo 14, 6). Com efeito, o meu caminho, o teu caminho, há de levar-nos a Jesus, há de levar-nos ao Pai. Sendo assim, quanto mais perto eu estiver de Jesus e quanto mais perto tu estiveres de Jesus, mais perto vamos estar um do outro. E se estamos próximos poderemos apoiar-nos mutuamente, ajudar-nos, incentivar-nos quando um de nós estiver a fraquejar.


Pe. Manuel Gonçalves, in Voz de Lamego, ano 93/34, n.º 4714, 12 de julho 2023

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