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Somos acolhimento

Jesus entrou em certa povoação e uma mulher chamada Marta recebeu-O em sua casa. Ela tinha uma irmã chamada Maria, que, sentada aos pés de Jesus, ouvia a sua palavra. Entretanto, Marta atarefava-se com muito serviço. Interveio então e disse: «Senhor, não Te importas que minha irmã me deixe sozinha a servir? Diz-lhe que venha ajudar-me». O Senhor respondeu-lhe: «Marta, Marta, andas inquieta e preocupada com muitas coisas, quando uma só é necessária. Maria escolheu a melhor parte, que não lhe será tirada» (Lc 11, 38-42).

A família de Lázaro, de Maria e de Marta é casa de acolhimento para Jesus e os Seus discípulos. Por curiosidade, os nomes dos irmãos estão ligados a acolhimento, cuidado e serviço. Casa de santa Marta é onde reside o atual Papa Francisco e é referenciada como patrona de hospitalidade, assumida como referência para obras de caridade. Há outro Lázaro nos evangelhos, figura de uma das parábolas de Jesus, cujo nome será associado aos lazaretos. A casa de Betânia, cuja dona é Marta, mas a hospitalidade é muito plástica em Maria, pela presença, pela escuta, pela quietude de quem cria espaço para o outro desabafar, contar as suas mágoas, expressar as suas alegrias. Nas nossas paróquias, as casas-betânias eram casas, famílias, disponíveis e prontas para acolher os sacerdotes, nomeadamente em dias de confissões, dando-lhes as refeições, mas também quartos para passarem a noite…

Duas formas de acolhimento visíveis, complementares, essenciais, visíveis em Marta e em Maria, podem suceder-se ou viver-se em simultâneo: cuidar dos espaços e das refeições, atender à necessidade do descanso e do alimento, por um lado, e, por outro, a atenção, a escuta, a presença silenciosa. Marta e Maria acolhem o melhor que sabem, cada uma à sua maneira, cada uma respondendo a necessidades diferentes. Importa que a urgência não esmague o essencial. Há pessoas que precisam de ajuda material, mas há muitas mais a precisar de quem as escute, as ame, as reconheça como pessoas.

Na vida de Jesus, há muitas situações de acolhimento e hospitalidade. Em casa de um certo Simão, uma mulher aproxima-se e, com as suas lágrimas, lava os pés a Jesus, enxugando-lhos com os cabelos, ungindo-os com perfume, num gesto de grande intimidade. Diz Jesus a Simão: “Entrei em tua casa e não Me deste água para os pés; mas ela banhou-Me os pés com as lágrimas e enxugou-os com os cabelos. Não Me deste o ósculo; mas ela, desde que entrei, não cessou de beijar-Me os pés. Não Me derramaste óleo na cabeça; mas ela ungiu-Me os pés com perfume. Por isso te digo: São-lhe perdoados os seus muitos pecados, porque muito amou; mas aquele a quem pouco se perdoa, pouco ama»” (Lc 7, 36-50, cf. Mt 26, 6-13). Episódio distinto, mas que tem gerado confusões na identificação das personagens, é de Maria de Betânia, irmã de Marta e de Lázaro, que, seis dias antes da Páscoa, unge os pés de Jesus com uma libra de perfume de alto preço, enxuga-lhe os pés com os cabelos (cf. Jo12, 1-10). Sendo um gesto de delicadeza, é também um sinal da proximidade da morte de Jesus.

Estamos a uma dezena de dias para acolher os peregrinos (estrangeiros) que vêm participar na Jornada Mundial da Juventude. É mais um desafio às nossas comunidades, às nossas famílias, aos nossos cristãos. Acolhemos com o que somos, com a nossa cultura, as nossas circunstâncias, a nossa vida e suas alegrias e canseiras.

Recorda-nos o Mestre: «Quem vos recebe, a Mim recebe; e quem Me recebe, recebe Aquele que Me enviou. Quem recebe um profeta por ele ser profeta, receberá a recompensa de profeta; e quem recebe um justo por ele ser justo, receberá a recompensa de justo. E se alguém der de beber, nem que seja um copo de água fresca, a um destes pequeninos, por ele ser meu discípulo, em verdade vos digo: Não perderá a sua recompensa» (Mt 10, 37-42).

Na mesma linha, o autor sagrado: “Não vos esqueçais da hospitalidade, pois foi graças a ela que alguns, sem o saberem, hospedaram anjos” (Heb 13, 2).


Pe. Manuel Gonçalves, in Voz de Lamego, ano 93/35, n.º 4715, 19 de julho 2023

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