Na China há jovens a usar t-shirt’s com uma provocação: “Somos a última geração”.
Talvez não seja apenas uma provocação, talvez possa ser resignação perante a realidade onde crescem egoísmos, nacionalismos, onde dispara a violência verbal e física, num mundo em ebulição, com um pavio demasiado curto e muito próximo de explodir e multiplicar as explosões. Hiroshima e Nagasaki foram fustigadas com as bombas atómicas, lançadas pelos EUA, respetivamente a 6 e a 9 de agosto de 1945, quando a Segunda Grande Guerra estava a chegar ao fim. Estas explosões mataram entre 90 mil e 166 mil pessoas, em Hiroshima, e 60 mil e 80 mil pessoas, em Nagasaki; cerca de metade das mortes ocorreu no primeiro dia, e as demais nos meses seguintes, consequência de queimaduras, envenenamento radioativo e outras lesões potenciadas pela radiação.
Seguiu-se a chamada guerra fria. De um lado os EUA (e os Aliados) e do outro lado a União Soviética. Se a humanidade, com a criação da ONU e com tantos projetos, convenções, acordos, tratados, parecia ter produzido a paz, ao olharmos para o nosso tempo vislumbramos destruição e ameaça diária, em conflitos locais que alastram rapidamente. O papa Francisco introduziu uma terminologia que, infelizmente, se tem verificado certeira: vivemos a terceira guerra mundial aos pedaços. A escalada da violência em várias zonas do planeta faz-nos perceber que poucos lugares da terra são agora seguros. Os atos terroristas do 11 de setembro de 2001, em Nova Iorque, ou de 11 de março de 2004, em Atocha, Madrid, são apenas dois episódios que têm tido réplicas em diversas latitudes. O radicalismo evidencia-se na intolerância para com os outros, para com quem é diferente e professa outro credo, político, cultural ou tem um cartão de cidadão diverso do nosso. Os outros, para os outros, somos nós. Somos nós os outros! Como desejaríamos de ser tratados?
As guerras da Rússia contra a Ucrânia e entre Israel e Hamas fazem pairar a maior desconfiança sobre o destino da humanidade, contagiando, acirrando e multiplicando ódios, vinganças, vontade de dominar e construir novos impérios. A eleição de Trump nos EUA, eleito pelo povo, tal como Hitler o tinha sido ou como o foi Putin, na cortina que se esconde além da Ucrânia, tem feito baralhar as contas. A ameaça sobre outros países e parcelas de território pertencentes a outras nacionalidades, a imposição da paz, não apenas pela via da negociação, mas da chantagem, da sobranceria, do poderio económico e militar, não permite antever uma paz duradoura, quando muito uma paz até ver se as forças se (des)equilibram. O tempo do império romano passou, o tempo da colonização também passou. O sonho de Napoleão Bonaparte ou de Hitler, e tantos outros, esfumou-se. O sonho de Putin e de Trump estão no terreno!
Este é um quadro possível! O outro quadro será o do diálogo, do respeito, da solidariedade.
O Jubileu 2025 está sob o signo da esperança. Talvez ainda não sejamos a última geração. Os medos não nos devem impedir de viver, de sorrir, de dar as mãos, de fazer o que está ao nosso alcance para tornar este mundo mais belo e mais justo.
Na Missa da noite de Natal, e abertura da Porta Santa, o Papa Francisco sublinhava: “Entre o espanto dos pobres e o canto dos anjos, o céu abre-se sobre a terra: Deus fez-se um de nós para que fossemos como Ele, desceu para o meio de nós a fim de nos reerguer e nos reconduzir ao abraço do Pai. É esta, irmãs e irmãos, a nossa esperança… Ela pede-nos, portanto, que não nos demoremos, que não nos arrastemos nos hábitos, que não nos detenhamos na mediocridade e na preguiça; pede-nos – como diria Santo Agostinho – que nos indignemos com as coisas que não estão bem e tenhamos a coragem de as mudar; pede-nos que nos façamos peregrinos em busca da verdade, sonhadores que nunca se cansam, mulheres e homens que se deixam inquietar pelo sonho de Deus, que é o sonho de um mundo novo, onde reinem a paz e a justiça”.
Qual o sonho que prossegues?
Pe. Manuel Gonçalves, in Voz de Lamego, ano 95/14, n.º 4791, de 19 de fevereiro de 2025