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Editorial: Os sins de Nossa Senhora

O tempo (litúrgico) que vivemos, o Advento, está preenchido (grávido) de Jesus. Ma há outras figuras incontornáveis neste itinerário de preparação e vivência tais como Isaías, João Batista, são José e, obviamente, Nossa Senhora. Maria é chamada por Deus para ser a Mãe de Jesus, Deus connosco, Deus que Se faz homem. Esta é já uma razão mais que suficiente para nos ocupar o coração e a vida.

A vida de Nossa Senhora é marcada por um SIM primordial, mas que, com o tempo, como acontece com todos, se renova, traduz, expressa, se aprofunda e se multiplica.

Uma diferença reconhecida e aceite na identidade feminina e masculina tem a ver com a verbalização dos sentimentos. O homem diz uma vez e mantém válido o que diz por dias, semanas e meses. A mulher tem necessidade de dizer muitas vezes o que sente e que lho digam muitas vezes. O que lhe disseram de manhã – amo-te ou estás muito bonita – terá que ser afirmado à exaustação durante o dia, seja oportuno ou não. Para haver paz em casa, o marido terá que saber mimar a esposa e musicar as palavras e os gestos.

Temos que aprender a sensibilidade feminina, (des)multiplicando os sins, concretizando com palavras e em obras o nosso sim a Jesus Cristo, a nossa vocação cristã, a nossa identidade batismal. Maria, na anunciação, recebe a boa notícia sobre a sua parenta Isabel, grávida, apesar da idade avançada e de já ter perdido a esperança em ser mãe. Mal refeita do anúncio que vem do Céu, logo Maria se levanta e se põe a caminho para se encontrar com Isabel, levando no seu ventre o filho de Deus altíssimo. O “fiat”, o “faça-se” segundo a Tua palavra, expressa-se em alegria, em ajuda e cuidado ao próximo, em evangelização, testemunhando tudo o que Deus fez e faz, as maravilhas que realiza na história e no mundo.

São raras as informações que os evangelhos apresentam sobre Maria, pois que se centram em Jesus e particularmente na Sua paixão e ressurreição, mas as notas sobre ela são expressivas.

Na apresentação do Menino, Maria acolhe no seu coração tudo quanto diz respeito ao seu filho, também o que se profetiza de provação e dor que se avizinham. Na perda e encontro de Jesus no Templo, Nossa Senhora experimenta a fragilidade do desencontro e a angústia, como qualquer mãe que perde um filho. Nas Bodas de Caná, Maria mostra bem como o sim a Deus se expressa e se vive no sim, no cuidado e na intercessão a favor das famílias dos noivos. Põe-nos também a nós em movimento: fazei tudo o que Ele vos disser. Os evangelistas dizem-nos como Maria escuta e medita em todos os acontecimentos. O “sim” dado ao Anjo é constantemente posto à prova e reafirmado por Maria.

Antes do “sim”, e dos “sins”, de Maria, e dos nossos “sins”, o sim de Deus que nos cria por amor e por amor nos chama à vida. Com efeito, sublinha são Paulo, “o Filho de Deus, Jesus Cristo, que nós, vos temos anunciado não foi ‘sim’ e depois ‘não’, mas foi sempre um ‘sim’. Porque todas as promessas de Deus são ‘sim’ em Jesus” (1 Cor 1, 19-20).

Com Maria, aprendamos a dizer sim, traduzindo-o no concreto da vida, no tempo da abundância e no tempo da provação, indo ao encontro do Senhor.


Pe. Manuel Gonçalves, in Voz de Lamego, ano 93/05, n.º 4684, 7 de dezembro de 2022

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