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Ser humano é ser frágil

Existem apenas duas coisas neste mundo das quais podemos ter certeza absoluta: o amor de Deus e a morte.

Deus dá-nos a vida e aguardamos que chegue a nossa hora segundo a Sua vontade para passarmos à eternidade.

No percurso por este mundo, as adversidades são imensas, e a vontade de desistir pode surgir muitas vezes. Como disse Tony Blair, «ser humano é ser frágil». Somos frágeis, precisamos de amparo, de amor, de um porto seguro. Como cristãos, depositamos todos os nossos anseios no coração de Deus e no coração de Nossa Senhora.

«Quando a situação é mais dura, a esperança tem de ser mais forte.» Mas nem sempre é fácil, nem sempre todo o amor e fé que temos em Deus é suficiente para encher o peito de ar e tentar, mais uma vez, seguir em frente.

A mente é algo demasiado complexo. Em casos extremos, consegue adoecer o corpo com todos os sinais e sintomas de uma patologia física; consegue criar-nos toda uma outra realidade que achamos ser verdadeira, mas que não passam de alucinações e sensações falsas.

Nunca devemos criticar e criar juízos de valor pelas atitudes dos outros. Nunca sabemos quando eles estão a agir de forma consciente ou se encontram perturbados, muitas vezes nem os próprios têm noção do seu real estado de saúde.

O último ato de desespero que passa pelo suicídio é algo assustador. A dor de quem vê nesta atitude a única saída não tem definição possível. E o mais impressionante, é que a maioria das pessoas que chegaram ao suicídio não deram sinal de que estariam a um passo do abismo. Pode acontecer a qualquer um de nós. Não sabemos quando a nossa mente pode cair no poço sem fundo, mas também pode acontecer aos que nos são próximos.

Quando tomamos conhecimento de uma tentativa de suicídio ou de um suicídio consumado por quem nos é próximo, a dor ainda é mais profunda do que soubéssemos apenas da sua morte por outra causa qualquer. Nós estivemos junto de nosso irmão diariamente e não nos apercebemos do que se passava, se calhar não prestámos a devida atenção aos pequenos sinais que poderiam ter existido, não conseguimos evitar a sua partida. Sentimo-nos culpados!

A saúde mental é algo muito valioso para nós e para quem nos rodeia, quantos casos de homicídios de pais a filhos porque não os querem deixar sozinhos no mundo a sofrer? Atos de desespero por uma salvação imediata.

Em setembro de 2021, um relatório da Ordem dos Psicólogos indicava que 1 em cada 5 portugueses são afetados por problemas de saúde mental! E muitos deles nem se apercebem disso. Ir a um Psicólogo não é dizer que somos “doidinhos”. Ir a um Psicólogo é uma necessidade para todos, como ir a um Dentista ou a um Médico de Família regularmente. As perturbações da mente são pérfidas e podem levar a consequências brutais. Devemos tratar de nós, corpo e mente, estando bem, também estamos mais aptos a ajudar quem nos rodeia.


Raquel Assis, in Voz de Lamego, ano 93/17, n.º 4697, 15 de março de 2023

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