Nas últimas semanas, vivemos a campanha eleitoral para escolhermos os deputados da Assembleia da República (AR) e, possivelmente, o primeiro-ministro. Foram tempos de grande agitação, ruído, multiplicação de palavras e promessas, de insinuações, procurando, na maioria das vezes, denegrir as forças partidárias adversárias, como se a bondade das propostas e projetos estivesse do lado de uma bandeira, de uma cor, de um partido! Curioso, na AR como alguns deputados não decidem o voto pelas propostas, boas ou más, mas em conformidade com a origem das mesmas! Puro preconceito! Quando aquilo que importa é a vida das pessoas, especialmente dos que vivem em situação mais frágil! A política, na sua génese, é uma arte e um serviço ao bem comum. Escolhem-se os momentos e as medidas mais favoráveis às pessoas e, é uma tentação permanente, não se opta pelo que é mais conveniente momentaneamente e que pode assegurar mais votos e mais lugares nas próximas eleições. É uma discussão em aberto.
Na próxima terça-feira, 19 de março, celebraremos a solenidade de são José, Esposo de Maria e Pai de Jesus, cuja eloquência do silêncio se torna fecundidade no compromisso com a família que Deus lhe deu para cuidar.
Os evangelhos não nos contam a vida de são José. Falam-nos um pouco mais da Virgem Maria. O centro é Jesus Cristo. O mistério pascal é o ponto fulcral da nossa fé. Assim o foi dos discípulos e da comunidade nascente. A morte de Jesus provocou o desânimo e a desolação, apesar das promessas que tinha feito. A ressurreição, e as aparições aos discípulos e às mulheres que os acompanham, mostra como as promessas se cumprem e a vida volta a germinar, agora de forma gloriosa, perene, definitiva. A partir de então, os discípulos voltam a reunir-se, sabendo que Jesus Cristo vive e está no meio deles. Celebram os encontros como memorial, memória que se faz sacramento, recordam as palavras de Jesus e tudo o que com Ele se relaciona. Da paixão e morte, e da ressurreição, três dias depois, vão recuando a outros acontecimentos, sobretudo da vida pública e, por conseguinte, mais conhecidos, procurando recordar e reter as palavras do Mestre. Vão também coligindo outras informações, junto de Maria e dos seus parentes, o que permite ficar por dentro de alguns factos da vida de Jesus, recuando até ao nascimento… até à eternidade. Da oralidade, põe-se por escrito o que Jesus disse e fez. Maria e José, como família, estão presentes, nas referências que se lhes fazem, mas também na delicadeza e nos modos de Jesus falar, se aproximar de todos, de se misturar com as pessoas mais simples, pobres e doentes, mulheres, crianças e estrangeiros, pecadores e publicanos. Com os pais aprendeu a delicadeza, o respeito, a dignidade de cada pessoa, a importância do trabalho, a partilha solidária como expressão do amor de Deus ao próximo.
Quando se fala de são José, é-nos apresentado o seu silêncio, não como silenciamento, mas como prevalência da ponderação e da justiça. Por certo que são José comunicou abundantemente com Maria e com Jesus, e contou ao seu filho as histórias populares e a história do povo de Deus. Até aos sete anos, as crianças, rapazes e raparigas, ficavam ao encargo das mães; a partir dessa idade, os rapazes ficavam ao cuidado do pai e acompanhavam-no. Jesus teve tempo para aprender a profissão de são José, aprender a vida. E, por sua vez, são José dispôs de muito tempo para comunicar a vida, a história e a religião ao menino, ao adolescente, ao jovem Jesus.
No que o Novo Testamento fixou, são José é um homem justo e temente a Deus, disponível e atento aos sinais que vêm do Alto. Ponderado, nas horas mais problemáticas não se deixa levar pelos impulsos e confia em Deus. Dorme sobre o assunto e Deus faz-lhe saber, em sonhos, os caminhos que poderá tomar.
Pe. Manuel Gonçalves, in Voz de Lamego, ano 94/18, n.º 4746, de 13 de março 2024.