“Encontro-me diante do último trecho do percurso da minha vida e não sei o que me espera. Contudo, sei que a luz de Deus está presente, que Ele ressuscitou, que a sua luz é mais forte do que toda a obscuridade; que a bondade de Deus é maior do que todo o mal deste mundo. E isto ajuda-me a prosseguir com segurança.” Bento XVI
O cemitério é um local de encontros e reencontros, de saudade do que foi e do que já não pode ser, de angústia e resistência.
Por estes dias, nos cemitérios, lágrimas de saudade vão jorrar dos nossos olhos, o nosso coração irá ficar asfixiado com as lembranças de dias felizes, os nossos braços vão ter saudades de sentir o calor daquele abraço.
A morte é, a par do amor de Deus, a única coisa certa que temos neste mundo. Nela não conseguimos ter qualquer tipo de opção, escolha ou controlo. Por vezes desejamos morrer e continuamos por cá, por vezes desejamos ter partido na vez do nosso ente querido.
Não sabemos o que acontece depois de partirmos deste mundo. Por muita fé que tenhamos, a dúvida e a angústia são ambas normais e não indicadoras de descrença no Pai.
A morte é um momento de resistência em dar um passo em frente na escuridão, resistência em ter forças para seguir o caminho que Deus nos destinou, resistência em permanecer por aqui, carregados de saudades, a aguardar o bendito encontro no último dia com quem já partiu.
Nós, que por aqui permanecemos, preferíamos ter partido para não ter de suportar o peso do abandono, da solidão, da saudade, mas devemos continuar os planos de Deus, acreditar na Sua bondade e no Seu amor.
Como nos disse o saudoso Bento XVI, a bondade de Deus é maior que todos os males, o que nos deve dar forças para prosseguir o nosso caminho até ao fim com segurança. Se por aqui permanecemos, será, certamente, por vontade de Deus, por ainda termos caminho a fazer. O último dia, o dia do reencontro, deve ser para nós uma certeza que nos ilumina o caminho mergulhado na escuridão da saudade.
Deus morreu por nós, ressuscitou por nós, deu-nos a prova que podemos confiar na Sua palavra. A vida é breve, demasiado breve, o momento do reencontro chegará e podemos aproveitar a visita aos cemitérios para preparar esse reencontro, com alegria em Deus, com a motivação de fazer uma mala de viagem para umas férias. Para lá da morte existe o mundo que Deus nos preparou com muito amor. Acreditar em tudo isto ajuda-nos e seguir em frente, a não ter receio por nós e pelos outros.
Que saibamos estar preparados quando o dia do reencontro chegar.
Raquel Assis, in Voz de Lamego, ano 94/48, n.º 4776, de 30 de outubro de 2024