O seu verdadeiro nome é Arminda Ângela mas era mais conhecida por Arminda André, nome herdado, creio do avô. Ficou viúva aos vinte e poucos anos com três filhos, muito pequeninos. Vestiu-se de luto pesado e nunca mais o despiu. Não tinha “leira nem beira” pois a sua mãe e avó ainda viviam. Ajudava os vizinhos, no amanho das terras, apenas, pelo comer como aliás faziam todos – ajudavam-se mutuamente.
No tempo das ceifas, aos domingos depois da Santa Missa, ia com os filhos, pequenitos, ao rebusco – apanhar as espigas caídas e abandonadas pelos ceifeiros – trabalho duro mas proveitoso. O mesmo fizera Rute, a moabita (leia o livro bíblico de Rute 2, 1-15) ao ficar viúva dum judeu, não abandonou a sogra mas acompanhou-a ate ao fim. Para sustento das duas também apanhava espigas caídas e abandonadas, vindo, depois, a casar, novamente, com Booz, que foi bisavô do rei David de cuja descendência nasceu Jesus.
A sua mãe, tia Ana André, para ajudar a criar os netos, aceitou ser governanta duma casa de família abastada da região e, quinzenalmente, lhe enviava uma alcofa aviada.
Com a idade a somar e os filhos já arrumados, dedicou-se tal como a profetiza Ana de quem fala São Lucas (Lc. 2, 35-38), a servir o Senhor Jesus, participando na Santa Missa diária, visitando o Santíssimo, todas as tardes, e passando, também, pelo cemitério para rezar pelos que já partiram.
Como seu afilhado, sempre lhe pedia Bênção e ela, sorrindo, abençoava-me e pedia com humildade: “tu és padre, abençoa-me, também, a mim” e eu abençoava-a, marcando-lhe a fronte com uma cruz.
A filha mais velha levou-a para a Holanda. A sua vivência religiosa não passou despercebida à Comunidade Católica local que, no fim das celebrações, a convidavam para um chá ou um café, apesar de, não se entenderem em línguas mas entendiam-se pela Fé no mesmo Cristo e pela alegria do sorriso.
Quando nos preparávamos para a festa-aniversária dos 100 anos, teve de ser internada e celebrou-o com as enfermeiras. Quando já pensávamos na festa dos 105, Deus chamou-a dois meses antes. Celebra-os no Céu com os Santos e os Anjos.
“O melhor túmulo dos defuntos é o coração dos vivos”. O melhor túmulo para ela é o nosso coração, Creio que, no Céu, continua a abençoar o afilhado e a interceder por ele junto de Deus.
P. José Justino Lopes, in Voz de Lamego, ano 94/07, n.º 4735, de 20 de dezembro de 2023.