Estamos a iniciar um tempo que nos incita a olhar para dentro.
Serão 40 dias de Quaresma, 40 dias de uma peregrinação pessoal e comunitária de conversão e de renovação espiritual.
“Iniciar um caminho de verdadeira conversão para enfrentar vitoriosamente com as armas da penitência o combate contra o espírito do mal” não tem de ser necessariamente neste tempo, Deus dá-nos todos os minutos, todas as horas, para regressarmos ao Seu encontro, para voltarmos à nossa essência e pureza, para voltar a viver na alegria do Seu amor. Mas esta é uma oportunidade em que, imbuídos no espírito do tempo próprio, ultrapassemos as inúmeras desculpas que nos impelem a não recomeçar de novo.
Pedir perdão admitindo as nossas falhas não é mostrar que somos piores que o outro, não é mostrar que não merecemos mais e melhor, não nos coloca de parte. Pedir perdão, admitir as nossas falhas, ter vontade em recomeçar, uma e outra vez, apenas mostra que somos merecedores do amor de Deus e da Sua esperança em nós.
No fundo todos sabemos que podemos fazer mais e melhor, todos sabemos o potencial que permanece adormecido em nós, todos vamos sentindo a chama dentro do nosso coração, então, porque não nos deixarmos ir nesta renovação interior e total do que somos hoje?
Medo de não conseguir? Medo do que vão dizer ou pensar? Medo de mostrar aos outros que estamos no caminho para Deus? Vergonha em ajudar o outro? Receio em perdoar?
Todos temos momentos de fraqueza, todos temos momentos menos bons e onde nos questionamos sobre a existência de Deus, mas, em nenhum destes momentos Ele desiste de nós, porque não Lhe dar uma oportunidade para que nos mostre que somos capazes?
A Quarta-Feira de Cinzas é considerada a “porta” da Quaresma, é o lembrete da nossa existência “Recorda-te que és pó e em pó te hás de tornar”.
Que esta Quarta-Feira de Cinzas seja, para cada um de nós, um ponto de viragem na nossa motivação diária, “Não hesitemos em reencontrar a amizade de Deus perdida com o pecado; encontrando o Senhor experimentamos a alegria do seu perdão.”.
A nossa fé não se mede pelo que iremos comer às sextas-feiras até à Páscoa, não se mede pela quantidade de cinza que o pároco colocará na nossa cabeça, mede-se pela força que temos em sermos melhores, em fazer o bem ao outro, em entregar o nosso coração e a nossa vida ao Criador.
Raquel Assis, in Voz de Lamego, ano 95/16, n.º 4793, de 5 de março de 2025