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De novo, a Procissão!

1. A Festa em honra de Nossa Senhora dos Remédios não foi interrompida. Mas, em 2020 e 2021, a Procissão teve de ser suspensa.

A «procissão de triunfo» — nas 121 edições que já leva — começou sempre na Igreja das Chagas e os andores foram sempre em carros puxados por juntas de bois. Estas são as únicas constantes que remontam à primeira Procissão (1894).

2. Qual terá sido a primeira imagem de Nossa Senhora dos Remédios a incorporar-se no cortejo?

É sabido que, desde 1904, a imagem que sai na Procissão é a que está na Sacristia.

3. Executada na Casa Fânzeres (Braga) — por um artista de quem só conhecemos o apelido (Marçal) —, chegou a Lamego a 2 de setembro daquele ano.

Após ter estado dois dias na Sé, deu entrada no Santuário a 4 de setembro.

4. Tudo levaria a crer que, antes de 1904, seria a imagem que está no trono do Altar-Mor a sair.

Só que as fotografias mais antigas da Procissão — a cargo de António Gomes Mourão — apresentam outra imagem.

5. O mais intrigante é que não há indicação de que tal imagem tenha existido no Santuário. Os sucessivos inventários não lhe fazem qualquer referência.

Assim sendo, poderá ter sido emprestada. Aliás, a imagem da Senhora da Assunção pertencia à Igreja de São Francisco. Só em 1963 foi cedida ao Santuário.

6. Acresce que da referida imagem da Senhora dos Remédios não há nenhum rasto nas igrejas da cidade.

O certo é que, ao preparar a quarta «procissão de triunfo» (1897), a Irmandade já sentia necessidade de obter uma imagem mais «apropriada para servir na Procissão».

7. Mas ela só viria sete anos depois (1904), numa oferta do casal Maximiano da Costa Cardoso e Maria d’Oliveira Cardoso.

E porque é que a imagem que está no trono não saía na Procissão?

8. Apesar de datar do século XVI, ela encontrava-se em bom estado, tanto mais que fora restaurada em 1889.

Acresce que o povo de Lamego pediu que essa imagem descesse à cidade em horas de aflição. Foi o que sucedeu por alturas da seca (1752), da febre tifóide (1866), da varíola (1874), da filoxera (1878) e da cólera (1885).

9. Não repugna que o motivo para não sair esteja ligado à escolha do dia da «procissão de triunfo».

Dado que — a partir de 1895 — a opção recaiu em 8 de setembro, é natural que tenham decidido manter Nossa Senhora dos Remédios no Seu lugar. Com tanta gente a vir ao Santuário por causa d’Ela, como entender que a sua principal imagem ali não se encontrasse?

10. Deste modo, é possível que tal imagem ainda tivesse saído na primeira «procissão de triunfo» (1894), pois ela ocorreu a 7 de setembro.

Nada disto pode ser garantido com plena certeza. Mas pode ser avançado com algum grau de probabilidade.


João António Pinheiro Teixeira, in Voz de Lamego, ano 92/41, n.º 4672, 7 de setembro de 2022

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