A primavera chegou.
Resgatemos as cores, reguemos as plantas, observemos o crescer das flores.
Paremos.
Vejamos como tudo floresce, renasce e se renova, brota da terra e vai crescendo, elevando-se em direção ao céu.
Sintamos a brisa revolver-nos os cabelos, o sol quente afagando-nos o rosto. Ouçamos os pássaros que cantam, que, como nós, festejam inocentes e livres o fim do dilúvio, a claridade, o aroma morno do que por aí há de vir.
Apreciemos a mudança que nos envolve e que ocorre, ainda e também, dentro de nós.
É tempo de mudança.
Permitamo-nos evoluir, despir as mágoas e o passado que nos pesa, qual casaco demasiado grosso para a nova estação que então iniciamos.
Sejamos como as flores — singelas e simples, pintalgando os campos, na constante busca pelo sol que nos faz crescer. E cresçamos, sim, sem, contudo, nos esquecermos de sentir, de encher de amor o vaso em que um dia fomos semente.
Vejamos.
A primavera chegou.
Saudemos os dias mais longos, o céu mais azul, o ar mais quente.
Celebremos a vida, em mais uma estação.
E, singelas, simples e belas, como flores à varanda plantadas:
que jamais deixemos de procurar a luz.
Ana Isabel Fonseca, in Voz de Lamego, ano 95/20, n.º 4797, de 2 de abril 2025