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Editorial: Planeta slow e a economia de Francisco

Foi apresentado no Agrupamento de Escolas de Tabuaço o projeto Planeta slow, tendo como cabeça de cartaz a cantora Áurea, bem conhecida dos portugueses, o que se deve também à participação, nos últimos anos, no programa The Voice Portugal, integrando o painel de jurados.

Já ouvimos dizer que não há planeta B, pois não se pode recriar o que foi destruído, o que desapareceu. Além de um documentário na RTP, de 50 episódios, Planeta A, está disponível também um livro, “Não há Planeta B”, de Carmen Lima. O propósito é cuidar o ambiente, da natureza, fazendo com que a pegada ambiental seja cada vez menor.

O Planeta Slow tem também um livro, com receitas culinárias, com um rosto, a Áurea, com três músicas correspondentes ao Fast Food, Fast Fashion e Fast Thecnology, com uma peça de teatro que engloba as mesmas dimensões. Comida rápida, moda passageira, consumo apressado da tecnologia. “Planeta Slow é um projeto pedagógico de Promoção do Desenvolvimento Sustentável, desenvolvido em coautoria com a cantora Aurea, que tem como propósito educar para a Sustentabilidade, nas suas diferentes dimensões (Social, Económica e Ambiental), sensibilizando e dotando os jovens de ferramentas que os auxiliem na adoção de comportamentos individuais e coletivos responsáveis e sustentáveis”.

Este projeto está orientado para alunos do 3.º Ciclo e Ensino Secundário. O futuro educa-se agora. “Imagina um Mundo com qualidade de vida para todos… onde a paz e a justiça imperam, há crescimento económico, as condições de trabalho são dignas e a produção e consumo são responsáveis e sustentáveis. Imagina um Mundo que privilegia a utilização de fontes de energia renováveis e onde não existe poluição da água, dos oceanos, mares e vida marítima… uma série de alertas para aquilo que, muitas vezes, achamos estar certo, por estarmos a satisfazer as nossas necessidades no presente. Acontece que, nem nos apercebemos que estamos a comprometer a capacidade de as gerações futuras satisfazerem as suas próprias necessidades”.

Vivemos num tempo em que o consumismo é publicitado (quase) como garantia de felicidade. Comida rápida. Estar na moda. Ter acesso imediato aos mais recentes gadgets, telemóveis, aplicações, tablets…

Em contraponto, têm surgido movimentos que alertam para os perigos de vivermos neste frenesim. Nesta área, parece-me, como em questões de justiça social, trabalho digno para todos, equilíbrio entre trabalho, descanso e família, salários que correspondam à produtividade mas também às necessidades das famílias, a Igreja tem estado atenta e tem liderado várias iniciativas. A Doutrina Social da Igreja tem acolhimento, pelo menos ao nível do reconhecimento intelectual, por parte dos intervenientes sociais e políticos. Aliás, para uns quantos a Igreja devia “reduzir-se”, na intervenção pública, a esta dimensão mais social, esquecendo a identidade que lhe vem de Jesus Cristo e da proposta consequente da ecologia integral. Não basta o foco na natureza ambiental! Na verdade, esta só tem sentido na promoção da dignidade humana. Não se protegem animais, esquecendo as pessoas! Quando muito, a educação de pessoas levará à proteção desta casa comum, em diferentes dimensões.

Depois da Carta Encíclica “Laudato Si’”, de inúmeras intervenções, o Papa convidou os jovens para Assis, para refletir e levar por diante a “Economia de Francisco”, apostando na inclusão de todos, respeitando as diferenças, e que estas sejam promotoras do enriquecimento cultural, na igualdade de oportunidades, atendendo prioritariamente aos que se encontram nas periferias. Os pobres clamam por atenção e cuidado imediato. É preciso, diz o Papa, olhar o mundo com os olhos dos mais pobres, criar trabalho digno para todos e levar as ideias para o plano concreto das ações. O objetivo é edificar uma verdadeira fraternidade.

A certeza do Papa Francisco: “Uma nova economia, inspirada em Francisco de Assis, hoje pode e deve ser uma economia amiga da terra e uma economia de paz. Trata-se de transformar uma economia que mata numa economia da vida, em todas as suas dimensões.”


Pe. Manuel Gonçalves, in Voz de Lamego, ano 92/44, n.º 4675, 28 de setembro de 2022

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