“Pequenos Passos Possíveis” (edições A.O.) é um livro com vários testemunhos sobre Chiara Petrillo, do marido, do pai, de médicos, de amigos, da irmã, de sacerdotes, mas também com alguns textos seus.
A vida nem sempre é como sonhamos. Esta expressão pode ser vista negativa ou positivamente, como desencanto e desilusão ou como oportunidade e bênção. A vida é sempre um mistério! Desejaríamos ter o controlo de tudo, mas, de uma ou de outra forma, há sempre alguma coisa que nos escapa, pois a vida acontece, os acasos ou coincidências, a ação dos outros e a conjunção das circunstâncias que envolvem pessoas, famílias, empresas, grupos, países, além de todos os imponderáveis da natureza.
Os jovens Chiara e Enrico casam, prometendo amar-se para sempre. Nesse amor, o nascimento dos filhos; os primeiros dois vieram ao mundo e viveram à volta de meia hora… ainda assim não deixam de se confiar a Deus. Durante a terceira gravidez, um carcinoma que viria a tornar-se “fatal”, pois quando havia condições para o tratar, sem colocar em risco a vida da criança, já era demasiado tarde. Um caminho mais duro, muito mais duro, em que Chiara, o marido, a irmã, os pais, os amigos, aprendem a lidar com o sofrimento, com os avanços e recuos, com as pequenas vitórias e a valorizar o tempo presente. Para tão grande luta, a proximidade e o aconchego de Deus, a oração, a adoração, a Eucaristia… a família e os amigos…
Ao filho, Francesco deixa-lhe palavras como herança: “No pouco que percebi nestes anos, apenas te posso dizer que o Amor é o centro da nossa vida, porque nascemos de um ato de amor, vivemos para amar e para ser amados, e morremos para conhecer o amor verdadeiro de Deus. O objetivo da nossa vida é amar e estar sempre prontos para aprender a amar os outros como só Deus te pode ensinar… o que quer que venhas a fazer só terá sentido se o fizeres em função da vida eterna. Se estiveres realmente a amar, aperceber-te-ás disso pelo facto de que nada te pertence realmente, porque tudo é dom. Como diz são Francisco: o contrário do amor é a posse”.
Este é um dos passos pequenos passos de Chiara e de Enrico, reconhecer que os filhos são dom de Deus. Diz o padre Francesco: “Cada dia, o Senhor propõe-te que dês um passo, mas os passos começam quando param as tuas certezas mentais; a viagem começa sempre quando acabam as certezas a que chegaste. O pequeno passo possível baseia-se na fé, numa realidade que te torna crente; não naquilo que decidiste na tua cabeça, mas no que é possível viver, que é um pouco mais relativamente a quanto te deste como medida: é a fé! O pequeno passo possível, no fundo, tem isto: tornar-te crente, cada dia, com o que deves enfrentar”.
Dos diferentes testemunhos, partilhamos mais um, o de Constanza Miriano: “Soubeste quem eras, quem ias sendo, a partir do olhar de Deus, e não do olhar do Enrico, e creio que ele fez o mesmo. Assim, é possível amar com um amor que não exige, que não possui, que não tem medo de desiludir. Fizeste-o procurando-te na palavra de Deus, encontrando sempre tempo para rezar”.
Pe. Manuel Gonçalves, in Voz de Lamego, ano 93/09, n.º 4689, 18 de janeiro de 2023