No planeamento que vamos fazendo enquanto jovens adultos contemplamos o objetivo de ter um emprego, uma casa e uma família.
Infelizmente, poucos são os que conseguem chegar à plenitude da concretização nos dias de hoje. Muitos dos que conseguem um emprego não são felizes no que fazem, e/ou são pagos indevidamente e/ou sofrem pressões enormes que lhes provoca um estado de burnout. Muitos são os que nem com dois empregos conseguem ter uma vida financeiramente independente, não conseguem ter tempo para construir uma família ou manter a sua família saudável. Assistimos ao regresso dos filhos a casa dos pais por não terem como alugar ou comprar uma casa.
O futuro dos jovens é negro, assim como o futuro do ambiente e o futuro dos adultos que veem com angústia os seus próximos anos como idosos.
São tempos difíceis, serão tempos difíceis. Pela primeira vez em muito tempo, os jovens e seus filhos terão uma vida num nível inferior ao dos seus pais, embora com mais escolaridade.
Os jovens que iniciam agora a caminhada no ensino superior, os que tiveram notas e condições financeiras para tal, iniciam uma viagem sem luz ao fundo do túnel, sabendo que o que os espera, muito provavelmente, é um trabalho precário fora da sua área de estudos.
A fé e a esperança que a Jornada Mundial da Juventude nos trouxe tenta mostrar que ainda é possível reverter o desastre climático, é possível os jovens atingirem os seus sonhos, é possível ter um mundo e um planeta melhores.
Existe todo um mundo de oportunidades se tivermos garra, vontade, em ultrapassar as dificuldades. Os estudos universitários já não têm emprego garantido, mas é sempre uma mais valia para descobrir, criar, inovar por si próprio. Pode não ser na nossa terra, na nossa casa, mas temos um país por descobrir com tantas possibilidades, regiões que carecem de mão de obra, de investimento, de pessoas. No interior, não temos trânsito, temos muitas vagas para creches e escolas gratuitas, os gastos são menores, existe um “apoio de vizinhança”, tudo traduzido numa maior qualidade de vida.
A nossa casa, o nosso lar, nem sempre é onde crescemos e onde estamos habituados a viver. A nossa casa é onde nos sentimos bem, realizados, acolhidos.
Sonhar é um direito, mas temos e devemos lutar para que seja possível atingir os nossos sonhos. Somos peregrinos, somos missionários, somos do mundo. Devemos dar uma oportunidade a outras regiões, conhecer e aprender a viver noutras culturas, noutros ambientes. Mesmo quando achamos que somos felizes, se calhar estamos enganados, se calhar o nosso padrão de felicidade não está calibrado, estamos é habituados, acostumados!
Ir, caminhar, descobrir… peregrinar nesta terra em busca de locais onde possamos fazer a diferença, onde necessitam de nós e onde são capazes de nos transformar, de nos fazer felizes.
Raquel Assis, in Voz de Lamego, ano 93/45, n.º 4725, de 11 de outubro de 2023.