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Para além da pesada pedra do sepulcro

Porque buscais entre os mortos Aquele que está vivo? (Lc 24, 5).

As mulheres acorrem ao túmulo onde Jesus foi sepultado. Passado o dia de sábado, o dia santo, Maria Magdala (Madalena), Maria, Mãe de Tiago, e Salomé dirigem-se, em passo apressado, ao sepulcro com o propósito de ungir Jesus com os perfumes e unguentos. O tratamento do corpo morto faz sobressair o cuidado e a estima que Lhe tinham. A preocupação das mulheres é, antes de mais, a dificuldade que têm pela frente: “Quem nos irá tirar a pedra da entrada do sepulcro?” (Mc 16, 3). Na verdade, era uma pedra muito grande que as suas forças não conseguiriam mover. As mulheres centram-se nas suas poucas forças e na reduzida possibilidade de cumprirem com o propósito que levavam de embalsamar o corpo de Jesus. Já que não o puderam fazer no dia da sepultura, por ser tarde e se aproximar a hora do início do sábado e da Páscoa, iam agora remediar a situação e “preparar” o corpo para a sepultura.

Refira-se, a propósito, a passagem em que Maria de Betânia unge os pés de Jesus, seis dias antes da Páscoa. Um dos discípulos, o “bode expiatório” de todo o mal, Judas Iscariotes, questiona: Porque é que não se vendeu este perfume por trezentos denários para o dar aos pobres?” É a voz de Judas, talvez seja a de outro qualquer discípulo e quem sabe a tua ou a minha voz. Jesus é perentório: “Deixai-a, para que o guarde para o dia da minha sepultura” (Jo 12, 7).

Liturgicamente, não estamos nem na Quaresma nem na Páscoa, mas, com efeito, é a Páscoa que nos congrega como irmãos, família e igreja, Corpo vivo de Cristo, na história e no tempo. O mistério pascal inunda, deve inundar, a vida toda, sem os resquícios do pecado, da morte, do mal. Ele caminha connosco, ainda hoje, ainda agora. Sempre. Pois está vivo! O sepulcro ficou vazio, perdido no tempo! É passado! Ele está vivo! É presente e futuro! Ele vive e está entre nós, caminha connosco e faz com que a nossa vida seja nova, constantemente, pelo mistério que celebramos nos sacramentos, especialmente na Eucaristia, e em todo o bem que fazemos em Seu nome, transparecendo, em palavras e obras, o Seu amor.

As redes sociais têm coisas muito boas! Podem ser um foco de conflito, mas, positivamente, guardam memórias, aproximam pessoas, ajudam a superar distâncias e isolamentos e tornam acessível imagens, vídeos e áudios que de contrário ficariam esquecidos. Numa destas memórias, um vídeo com a intervenção do Papa Francisco, no tempo em que ainda era cardeal de Buenos Aires, Jorge Mario Bergoglio. Como o seu entusiasmo, inflamava a assembleia, em 2009. Não busquemos entre os mortos Aquele que está vivo. “Deixa de te enredar com a pedra, com quem vai mover a pedra. Sabeis porque gostamos da pedra? Porque fabricar os problemas, enredar-nos nos problemas, ou dar-lhe espaço sem esperança aos problemas reais que temos, nos entretém e fomenta a nossa capacidade de controlar, de nos sentirmos senhores da situação e Senhor é um só… estava lá e já não está e continuamos a buscá-l’O entre os mortos! Não busquemos entre os mortos Aquele que está vivo… Regressa à galileia do teu coração quando O conheceste pela primeira vez… não fabriques dificuldades, não te enredes na pedra, Ele espera-te na Galileia do primeiro encontro. Deixa-te encontrar por Ele, porque está vivo e se está vivo é capaz de mudar a tua vida!”

Na Vigília Pascal de 2019, o santo Padre recupera esta imagem: “O nosso caminho não é feito em vão, não esbarra contra uma pedra tumular. Uma frase incita as mulheres e muda a história: «Porque buscais o Vivente entre os mortos?» (Lc 24, 5); porque pensais que tudo seja inútil, que ninguém possa remover as vossas pedras? Porque cedeis à resignação e ao fracasso? A Páscoa é a festa da remoção das pedras. Deus remove as pedras mais duras”.


Pe. Manuel Gonçalves, in Voz de Lamego, ano 94/32, n.º 4760, de 26 de junho 2024

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