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Palavras que são vida

A linguagem permite que nos descubramos, nos encontremos e nos conheçamos.

A palavra faz parte da identidade humana, ainda que a pessoa possa comunicar de outras formas, com gestos, com a expressão do rosto, com a maneira de vestir, com a postura, comunica-se com o sorriso, com o olhar, com os silêncios. O silêncio é de ouro. Muitas vezes. Mas até o silêncio precisa das palavras, da aprendizagem dos instantes, da compreensão do significado deste ou daquele silêncio, pois nem todos os silêncios são iguais. As palavras podem esclarecer o silêncio que se promove na escuta ou na reação às palavras ou a gestos e ações do outro. A palavra humaniza-nos, quando ajuda a aproximar, a compreender-nos, a animarmo-nos. Se as palavras brotarem do coração, forem sinceras, se levarem a própria pessoa ao outro, então, claramente são palavras que geram vida.

A determinada altura, Jesus invetiva-nos a usar uma linguagem direta, simples, verdadeira. A vossa linguagem seja sim, sim, não, não. Tudo o que vai além disso, é diabólico, separa, divide, gera confusão e conflito (cf. Mt 5, 37). E se as palavras são autênticas, não são necessárias muitas palavras, não é necessário jurar. “Não jureis de maneira nenhuma: nem pelo Céu, que é o trono de Deusnem pela Terra, que é o estrado dos seus pés, nem por Jerusalém, que é a cidade do grande ReiNão jures pela tua cabeça, porque não tens poder de tornar um só dos teus cabelos branco ou preto” (Mt 5, 35-36).

Quando rezardes, recomenda-nos o Mestre da Sensibilidade, «Nas vossas orações, não sejais como os gentios, que usam de vãs repetições, porque pensam que, por muito falarem, serão atendidos. Não façais como eles, porque o vosso Pai celeste sabe do que necessitais antes de vós lho pedirdes. Rezai, pois, assim: ‘Pai nosso, que estás no Céu, santificado seja o teu nome, venha o teu Reino; faça-se a tua vontade, como no Céu, assim também na terra. Dá-nos hoje o nosso pão de cada dia; perdoa as nossas ofensas, como nós perdoámos a quem nos tem ofendido; e não nos deixes cair em tentação, mas livra-nos do Mal’» (Mt 6, 7-13).

No momento de crise e de decisão, Jesus pergunta aos Seus discípulos se querem abandonar, seguir outro caminho, diante das palavras duras que tinha proferido: «Em verdade, em verdade vos digo: «se não comerdes mesmo a carne do Filho do Homem e não beberdes o seu sangue, não tereis a vida em vós. Quem realmente come a minha carne e bebe o meu sangue tem a vida eterna e Eu hei de ressuscitá-lo no último dia, porque a minha carne é uma verdadeira comida e o meu sangue, uma verdadeira bebida. Quem realmente come a minha carne e bebe o meu sangue fica a morar em mim e Eu nele». A pergunta de Jesus é clarividente: «Também vós quereis ir embora?». Então, Pedro toma a palavra e em nosso nome responde com firmeza: «A quem iremos nós, Senhor? Tu tens palavras de vida eterna!» (Jo 6, 55ss).

Há sorrisos que são abraços, há palavras que são beijos. A palavra, por excelência, é Jesus, a Palavra de Deus que Se faz carne, que Se identifica connosco, para aprendermos a identificar-nos com Ele. Vivemos a Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos (18 a 25 de janeiro). A palavra que nos une é Jesus. No próximo Domingo, o terceiro do Tempo Comum, celebraremos, uma vez mais a Palavra de Deus, para nos deixarmos cativar pelo sorriso de Jesus, pela graça divina, pela presença amorosa de um Deus que Se apequena para ficar no nosso tamanho. O Verbo se fez carne e habitou no meio de nós (cf. Jo 1, 1-18).

Numa bela melodia, o Pe. Toño Casado expressa bem esta palavra que vem de Deus: “Tua Palavra se faz vida no meu coração. / O que é vento se faz beijos, / gestos de perdão. / Mudará quem eu sou. / Tua Palavra será o fogo da minha voz…”.

Há palavras que são vida, que salvam, que resgatam, que perdoam, que transformam. Sejamos essas palavras, deixando que brilhe em nós a Palavra de Deus, que brilhe em nós Jesus.


Pe. Manuel Gonçalves, in Voz de Lamego, ano 95/10, n.º 4787, de 22 de janeiro de 2025

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