O Evangelho Segundo São Mateus conta que quando Jesus subiu a um monte para proferir o Sermão da Montanha a uma grande multidão, disse aos discípulos: “Vós sois o sal da terra. E se o sal perder a sua força, com que outra coisa se há de salgar?”.
No microcosmos que é a cidade de Lamego, o Padre José Guedes é, aos 76 anos, juntamente com o Padre José Abrunhosa, o sal da multisecular Paróquia de Almacave, a mais populosa da Diocese de Lamego, e o orientador espiritual de muitos fiéis.
É impossível ficar indiferente à resiliência e à generosidade que move este pastor de pessoas na sua missão.
Nos últimos dias, confessa viver “uma paz interior extraordinária”. Depois de anos de sucessivos avanços e recuos, em que a angústia e a incerteza obscureceram muitas vezes o seu ânimo, vê agora com alegria o início dos trabalhos de restauro da Igreja de Santa Maria de Almacave.
Um monumento nacional vítima de um violento incêndio que originou, em 1988, a perda e a destruição de parte do interior. Para aflição dos paroquianos, o retábulo do altar-mor ficou, na sequência deste trágico episódio, seriamente danificado, bem como outras estruturas retabulares e obras de arte.
Trinta e cinco anos depois, as nuvens começam a dissipar-se e em breve a Igreja de Almacave reabrirá portas para voltar a ser um veículo de evangelização e a despertar uma grande emoção estética a quem a visita.
A azáfama própria dos trabalhos de reabilitação quebra agora o silêncio sepulcral que costuma dominar o interior deste templo românico. “Todos estes anos, a falta de uma intervenção profunda causou-me uma tristeza e uma amargura terríveis. Agora felizmente a situação mudou”, afirma ao projeto #lamegoeuacredito durante uma visita-guiada às obras.
A empreitada, a cargo de uma empresa especializada, está orçada em 120 mil euros, investimento assumido na íntegra pela Paróquia de Almacave.
Por agora, o retábulo do altar-mor encontra-se na cidade de Braga onde está a ser objeto de um restauro minucioso, enquanto decorre no interior do imóvel a reabilitação do teto da nave central.
“Esta Igreja tem um valor incomensurável! Foi erguida sobre um cemitério mouro, uma cave de almas. É anterior à própria nacionalidade. D. Afonso Henriques veio aqui, em 1143, agradecer a Nossa Senhora a independência de Portugal, numa viagem que o levou de Zamora a Guimarães”, explica.
Chegado à Paróquia de Almacave, a 23 de janeiro de 1989, vindo da vila de Salzedas, o Padre José Guedes continua hoje com a mesma bondade e responsabilidade espiritual a viver de forma autêntica o seu serviço e a guiar os paroquianos no seu percurso de Fé.
Ricardo Pereira, #lamegoeuacredo, in Voz de Lamego, ano 93/12, n.º 4692, 8 de fevereiro de 2023