Um dia um professor, numa aula normal, trouxe balões, pediu que cada um de nós colocasse o próprio nome num balão. Depois, pegou nos balões, levou-os para o corredor, baralhou-os e desafiou-nos a encontrar, em cinco minutos, o balão com o nosso nome. Findo e tempo e grande confusão, nenhum aluno tinha encontrado o respetivo balão. Então, o professor mudou as regras e pediu que cada um de nós pegasse no primeiro balão que encontrasse e o entregasse à referida pessoa. Em menos de dois minutos, todos tínhamos o balão com o nosso nome. A conclusão do professor: a felicidade é como os balões, quando cada um procura a sua, ninguém a encontra, se nos preocuparmos com a felicidade dos outros, encontraremos também a nossa.
Esta é uma publicação que circula nas redes sociais. Na mesma publicação, o autor da publicação recorda um ditado popular: um dia saí para fazer amigos e não fiz amizades; então saí para ser amigo e fiz amigos em todos os ambientes.
Há uma correnteza que nos faz olhar especialmente para nós, num narcisismo que pode ser castrador e destrutivo das relações basilares da amizade e da família ao colocar-se como centro, exigindo tudo aos outros e considerando-os, interesseiramente, na medida e enquanto são úteis e servem os meus desejos! A publicidade diz-nos claramente: cuida de ti, gosta de ti, ama-te… se tu não gostares de ti, ninguém gostará. De um ponto de vista psicológico tem a sua relevância, se não se tornar uma obsessão. É fundamental a autoestima, a pessoa ter consciência das suas fragilidades e limitações, mas igualmente relativizar contrapondo com os dons, qualidades e talentos que possui. De um ponto de vista cristão, a certeza que somos criados à imagem e semelhança de Deus e que a nossa grandeza não se apoia nos nossos fracassos e misérias, mas se enforma no amor de Deus. Esta visão conduzirá, por certo, a essa autoestima positiva, apaziguadora e apoiada, não nos momentos, mas na “imutabilidade” de Deus, que não se altera arbitrariamente conforme as circunstâncias.
É possível que nos esteja na massa do sangue a dinâmica da sobrevivência, podendo, em algumas situações, vermos e considerarmos os outros como adversários ou até inimigos. No livro do Génesis, Caim insurge-se, por ciúme, por inveja, contra o seu irmão, Abel, numa luta eventual pela sobrevivência, elimina o outro por achar que possa fazer sombra ou obstaculizar à realização dos seus projetos pessoais. A narrativa, com todos os seus elementos simbólico-mitológicos, diz-nos algo de fundamental, para aquele tempo, o das origens, para o tempo em que o texto foi criado, partindo de situações concretas, reais e historicamente determinadas, e com o intento de mostrar os desígnios divinos diversos das vivências familiares e comunitários, e para este tempo, o nosso, em que os fundamentalismos, extremismos, nacionalismos, os egoísmos se encontram na moda.
A destruição do outro levará à nossa própria destruição.
Tendemos a proteger o nosso canto. Há um nível de desconfiança e de medo aos que chegam de outras latitudes. À esquerda e à direita política, deixamos a discussão acesa, por estes dias e pelos seguintes, sobre migração, mais sobre imigração do que sobre emigração, pois os nossos podem decidir partir por milhentas razões e, sempre, esperamos que sejam bem acolhidos nos países destinatários, Inglaterra ou Venezuela, França ou Suíça, Alemanha ou Angola, EUA ou Japão.
Para quem vive no interior, existe o difícil equilíbrio que, pouco a pouco, não teremos que fazer, entre o acolhimento, as condições para tal, e o lugar para os nossos. A densidade populacional e o envelhecimento estão a resolver a questão, ficam apenas os idosos, os pobres, os que não têm condições para partir, num círculo vícios. Não são geradas ofertas porque se conclui que não haverá quem preencha as vagas. Não há procura, mesmo havendo ofertas, porque já saíram para outras paragens. Aqueles que antes eram recusados, por acharmos que nos tiravam o lugar, são agora tão necessários como pão para a boca, garantindo (aos que ficam) a possibilidade de sobrevivência.
A opção de Cristo e, por conseguinte, dos cristãos é a da hospitalidade e da fraternidade, em todas as circunstâncias, pois todos são merecedores da nossa admiração, do nosso cuidado e atenção, do nosso amor e solidariedade, da nossa ajuda e serviço. Quando não há condições, cabe-nos criá-las e não (tanto) excluindo quem procura uma vida mais doce e mais sã.
Pe. Manuel Gonçalves, in Voz de Lamego, ano 94/21, n.º 4749, de 10de abril de 2024