HomeCrónicasO Natal que é de Maria

Estamos a viver um dos tempos litúrgicos mais bonitos, o Tempo do Natal.

O nascimento de uma criança é uma bênção, uma vida nova que traz consigo esperança e amor. A gravidez nem sempre é pacífica, pois acarreta preocupações com o parto e com a própria criança. E se nem sempre tudo é um mar de rosas, Maria, para além de tudo isso, sofreu muito, teve de fugir, teve de procurar um local para o nascimento de Jesus. A mais comum das mães vai-se apercebendo das falhas para com os seus filhos, as vezes em que os repreenderam mas afinal eram elas que não os conseguiam compreender, as vezes em que não houve paciência para uma brincadeira, o tempo que não dispensaram aos seus filhos… Maria passou por tudo isso e por muito mais, o saber que não conseguiria proteger o seu filho, que Ele não era como os outros, que era insultado e incompreendido.

O Natal, mais do que o nascimento do Salvador, na minha opinião, é uma celebração que enaltece Maria, e todas as mães. Não será por acaso que daqui a dias, o primeiro dia do ano civil, é a Ela reservado, a Solenidade de Santa Maria Mãe de Deus.

Se Jesus sofreu, e muito, principalmente dos seus anos de vida pública, culminando na sua morte cruel, Maria sofreu esses tempos com Ele, mas também, toda a vida sofreu por Ele.

Maria, desce o anúncio do Anjo, apenas conseguiu viver em sobressalto, mergulhada na ansiedade do desconhecimento do futuro reservado a Jesus, mas sempre com fé e esperança em Deus.

Se a maior angústia de uma mãe é não poder trocar de lugar com o filho quando este se encontra em sofrimento, percebemos que Maria teve uma das maiores cruzes de sempre.

Quantas vezes não terá Ela pensado que não devia ter dito “sim”, quantas vezes não terá questionado Deus sobre o “porquê”?

Maria é um exemplo de esperança, fé e resiliência. Maria mostra-nos que nos preocupamos, muitas vezes, com coisas supérfluas, que não devemos ter medo acreditar em Deus e colocar nas Suas mãos os nossos filhos, a nossa vida. Não é fácil, somos humanos sofredores que desconhecem os desígnios de Deus, mas Deus é pai, e como tal, é incapaz de fazer mal aos seus filhos. Questionar a vontade e as opções de Deus não me parece que seja pecado, pois até Jesus O questionou “porque me abandonaste?”. Ao questionar estamos a considerar as possibilidades, as razões, e se estamos a considerar, estamos a dar importância, estamos no Seu caminho.

Maria aceitou, sofreu, resistiu, amou. Aceitou o mundo inteiro como seus filhos após ter sofrido como ninguém, continuou a dizer “sim” à vontade de Deus.

Que Maria nos ensine a amar de forma simples, a colocar a nossa vida nas mãos de Deus, a não desistir, a dizermos “sim”.


Raquel Assis, in Voz de Lamego, ano 94/08, n.º 4736, de 27 de dezembro de 2023.

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