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O Natal e o Deus que Se ajoelha

Tudo nos fala de Natal. Há várias semanas. Alarga-se o tempo e a partir de setembro, pelo menos, começam as ofertas para antecipar o Natal ou melhor, as compras para o Natal, num claro apelo ao consumismo antecipado. Como é óbvio, o comércio precisa de tempos fortes para se revitalizar e para garantir o investimento e o sustento tranquilo dos seus funcionários. Todavia, com tanta luz e tanto brilho, podemos esquecer o essencial: o nascimento de Jesus como bênção e luz para todo o mundo.

Num vídeo publicado nas redes sociais, a primeira ministra italiana, em 2022, explicava a opção por construir um presépio em vez das maravilhosas árvores de Natal. Três notas prévias: em primeiro lugar, também as árvores de Natal são ou podem ser um sinal que aponta para a Luz que é Jesus; em segundo lugar, citar alguém, como no caso, esta figura pública, não significa concordar com tudo o que defende… até porque para isso precisaria de a conhecer minimamente e às políticas que defende, o que não é o caso; em terceiro lugar, opto por pensar que não se trata (apenas) de marketing político, mas oportunidade para sublinhar a identidade do Natal e de assumir publicamente que é cristã. Assim se define: mulher, mãe, italiana, cristã.

Giorgia Meloni sublinha como em alguns ambientes europeus os sinais cristãos vão sendo eliminados e proibidos. Depois da supressão da cruz, também os presépios são proibidos em escolas públicas de alguns países, cuja multiculturalidade exclui tradições, o que faz parte do património, não apenas religioso mas também cultural. Pergunta-se Meloni ao mostrar o presépio: que mal pode provocar uma criancinha como Jesus ou a família de Nazaré, Maria e José? Afinal, o presépio, ou melhor, Aquela criança veio como Príncipe da Paz, construir fraternidade, desafiar-nos a amar-nos uns aos outros como irmãos.

O mistério do Natal expressa o amor de Deus trazido até nós em carne e osso, em Pessoa, em Jesus Cristo. A encarnação fala-nos, não de poder e omnipotência, mas de amor, fragilidade, fraternidade, humildade.

Com efeito, Ele que era de condição divina, não Se valeu da Sua igualdade com Deus, mas aniquilou-Se a Si próprio, assumindo a condição de servo, por amor, pronto para dar a vida para que a vida da humanidade se tornasse abundante e harmoniosa. Fez-Se pequenino, um como nós, frágil e sujeito às mesmas condicionantes espácio-temporais. Vem procurar os pequeninos, os que se sentem e se têm como pequeninos. O poder de Jesus é frágil: amar, sem limites, sem medida, ou com a grandeza do Infinito.

Deus não nos olha de soslaio ou a partir de um pedestal, como rei déspota e juiz, mas, em Cristo, olha-nos ao mesmo nível, carne da nossa carne, olhos nos olhos. Como se verá na Última Ceia, vai ainda mais a baixo, ajoelha-Se, lava-nos os pés, lavando-nos do pecado, do egoísmo, da soberba e da sobranceria. Se Deus age assim connosco, como é que deveremos agir uns com os outros?

Na Vigília com os jovens, na JMJ 2023, no Campo da Graça (Parque Tejo), ecoaram firmes as palavras do santo Padre: “Reparai, quando alguém tem de levantar ou ajudar uma pessoa a levantar-se, que gesto faz? Olha-a de cima para baixo. Trata-se da única ocasião, do único momento em que é lícito olhar uma pessoa de cima para baixo: quando queremos ajudá-la a levantar-se. Quantas vezes vemos pessoas que nos olham sobranceiras, por cima do ombro, de cima para baixo! É triste. O único modo, a única situação em que é lícito olhar de cima para baixo uma pessoa é para a ajudar a levantar-se”.

Santo, feliz e abençoado Natal a todos, leitores, assinantes e anunciantes, colaboradores.


Pe. Manuel Gonçalves, in Voz de Lamego, ano 94/07, n.º 4735, de 20 de dezembro de 2023.

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