O Homem que plantava árvores narra a história de Elzéard Bouffier, um pastor que habitava numa região isolada, seca, árida, ventosa, inóspita. Para além do seu rebanho, este homem tinha outra ocupação: plantar árvores com o objetivo de criar uma extensa floresta. Tinha tomado esta decisão porque deu conta que a região estava a morrer por faltas de árvores e resolveu remediar a situação.
O narrador desta história conheceu o pastor por acaso e testemunhou algumas etapas da sua atividade. Viu, por exemplo, como ele escolhia com paciência as melhores bolotas, como as semeava metódica e persistentemente, como aceitava, sem revolta nem desânimo, que uma boa parte da plantação estivesse destinada a morrer (quer por efeito do clima, quer dos roedores, quer do abate), como se centrava nas árvores que sobreviviam e nas que ainda haviam de nascer.
Vale a pena transcrever uma passagem que mostra bem o modo de estar na vida de Elzéard Bouffier: “Nunca o vi esmorecer ou duvidar. E, no entanto, só Deus sabe os obstáculos que ultrapassou! Não fiz contas às suas contrariedades. Mas pode-se facilmente imaginar que, para alcançar tal proeza, tenha sido preciso vencer a adversidade; que, para alcançar o sucesso de uma tão grande paixão, tenha sido preciso lutar contra o desespero. Tinha plantado, durante um ano, mais de dez mil áceres. Morreram todos. No ano seguinte, abandonou os áceres para retomar as faias, que se deram ainda melhor que os carvalhos”.
O narrador regressa àquela região uns anos depois de ter conhecido o pastor e custa-lhe a crer que se trata do mesmo sítio. É que a enorme floresta plantada por Elzéard Bouffier tinha transformado por completo o ambiente, propiciando a fertilidade da terra, amenizando as condições climatéricas e atraindo pessoas que lá se fixaram e que trouxeram alegria e esperança. “As casas novas, rebocadas de fresco, tinham em volta jardins onde cresciam, misturados mas ordenados, os legumes e as flores, as couves e as roseiras, os alhos-porros e as bocas de leão, o aipo e as anémonas. Era agora um lugar onde apetecia viver. […] No lugar das ruínas que eu vira em 1913, erguem-se agora quintas bem cuidadas, sinal de uma vida feliz e confortável. As velhas nascentes, alimentadas pela chuva e pela neve retidas pela floresta, voltaram a correr”.
Jean Giono escreveu O Homem que plantava árvores em 1953, altura em que as preocupações ecológicas ainda não tinham atraído a atenção generalizada, como acontece atualmente.
No entanto, o significado desta obra não se esgota na ecologia. A vida de Elzéard Bouffier dá-nos várias lições. Uma delas está relacionada com a importância da persistência, que, posta ao serviço de grandes desígnios, é capaz de melhorar o mundo, não sendo, para isso, necessário e, por vezes, nem adequado publicitar o que se faz. O potencial da ação individual é imenso. Tal como diz o narrador, “Quando penso que um único homem, […] foi suficiente para fazer surgir do deserto esta terra de Canaã, acho que, apesar de tudo, a condição humana é admirável”.
O Homem que plantava árvores é, pois, um livro adequado a todas as idades, pois todos estão sempre a tempo de deixar no mundo uma marca positiva.
Margarida Dias, in Voz de Lamego, Ano 93/42, n.º 4722, de 20 de setembro de 2023