O eucalipto seca tudo à sua volta!
Analogia referenciável às pessoas que abafam as outras, dão-lhes sombra, mas não as deixam absorver o sol, a luz, a claridade. O eucalipto, com efeito, tem muitas propriedades e utilizações, além de libertar oxigénio, produz lenha para aquecer ou gerar energia, grande utilidade na produção de papel. As suas folhas são utlizadas na indústria farmacêutica, xaropes, óleos, cremes. As folhas secas podem ser usadas em cataplasmas, infusões, banhos ou vapores, além do mel de eucalipto, são ainda um remédio natural para problemas respiratórios, gripes, constipações, tosse, catarros, infeções, ranho e sinusite.
Popularmente diz-se que há pessoas-eucaliptos, impedem outras de brilhar, de se afirmarem, de sobressaírem com as suas qualidades, em vez de potenciarem e gerarem novas lideranças, são um empecilho, geram súbditos e aduladores. Em vez de autonomia, criatividade e responsabilidade, promovem a subserviência, o mimetismo e um seguidismo doentio. Assim funcionam as ditaduras e os ditadores. O que pensa o líder é o que pensam todos os que se encontram abaixo na cadeia hierárquica. As pessoas-eucaliptos são autorreferenciais, fazem tudo para que o mundo gire em seu benefício; os outros contam na medida em que ajudam a manter o status, o poder, na medida em que aplaudem e elogiam o “chefe”.
Em algum momento podemos respirar essa tentação, procurando deter o conhecimento e o poder, criando dependências que nos mimem e nos “sirvam”.
Porém, para o cristão, seguindo Jesus Cristo, as palavras como os gestos hão de ser purificados pela caridade, por um olhar que coloque os outros como “senhores” e não como servos. Jesus, di-lo claramente: “o Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate de muitos” (Mc 10, 45). Na última Ceia, Jesus lava os pés aos Seus apóstolos e explica as razões: “Entendeis o que vos fiz? Vós chamais-me ‘o Mestre’ e ‘o Senhor’ e dizeis bem, porque sou. Ora, se Eu, ‘o Senhor’ e ‘o Mestre’, vos lavei os pés, também vós deveis lavar os pés uns dos outros. Dei-vos o exemplo, para que, assim como Eu vos fiz, vós façais também. Amém, amém vos digo: um servo não é maior do que o seu senhor, nem um apóstolo maior do que aquele que o invejoso. Se compreendeis isto, felizes sereis se o fazerdes” (Jo 13, 12-17).
Dentro do Sermão da Montanha, encontramos uma analogia belíssima sobre a identidade dos Seus discípulos: “Vós sois o Sal da terra. Mas se ele perder a força, com que há de salgar-se? Não serve para nada, senão para ser lançado fora e pisado pelos homens. Vós sois a luz do mundo. Não se pode esconder uma cidade situada sobre um monte; nem se acende uma lâmpada para a colocar debaixo do alqueire, mas sobre o candelabro, onde brilha para todos os que estão em casa. Assim deve brilhar a vossa luz diante dos homens, para que, vendo as vossas boas obras, glorifiquem o vosso Pai que está nos Céus» (Mt 5, 13-16).
Com efeito, o sal, para cumprir a sua função, desaparece como sal, permitindo que se saboreiem os alimentos. Este gastar a vida para que os outros tenham vida em abundância. Quando o sal se faz notar, a comida torna-se intragável! Como o grão de trigo que cai à terra, dá fruto morrendo, assim o sal está ao serviço e em função dos alimentos.
Na mesma perspetiva, a luz que incide sobre objetos e pessoas, permitindo que sejam vistos. Não olhamos para a luz, esta desempenha a missão importante que nos permite ver, caminhar em segurança, olhar para quem chega ou para quem está à nossa beira.
Assim é o nosso compromisso cristão, a nossa identidade batismal. Que as nossas escolhas ajudem outros a ver a Luz de Jesus Cristo e a saborear a Sua presença!
Pe. Manuel Gonçalves, in Voz de Lamego, ano 93/31, n.º 4711, 21 de junho 2023