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Editorial: Nascimento de Jesus como bênção

No contexto em que vivemos, particularmente na Europa e no mundo ocidentalizado, onde se inclui o país e o interior Norte, o nascimento de uma criança é, por si mesmo, uma bênção, um motivo de festa e de gratidão.

Uma criança que nasce – salvo situações de irresponsabilidade dos pais e falta de condições mínimas, sobretudo pessoais e/ou familiares, pois as condições económicas precárias devem ser resolvidas pela sociedade (Estado, Segurança Social, Autarquias) – enche a casa de alegria e enriquece a região e o país. Podemos sempre falar em falta de oportunidades profissionais para justificar a fixação de pessoas (jovens) no interior, mas, na verdade, é um círculo vicioso, a primeira carência verifica-se ao nível da natalidade. As crianças fazem a economia circular, pois têm muitas mais necessidades que os adultos, quanto à alimentação, ao vestuário ou ao calçado! Quando numa terra, o Lar e o Centro de Dia envolvem mais pessoas que a escola, começa a ser preocupante, pois a localidade está a desaparecer do mapa.

Obviamente, importa clarificar, a gestação e nascimento de uma nova vida, de uma criança, não tem uma função primeiramente de utilidade para o meio social e económico, há de, isso sim, expressar a riqueza afetiva, espiritual, amorosa do casal, cujo fruto se consagra na fecundidade. Esta é a grande bênção. O filho não corrige o amor inexistente entre os pais, não compensa insuficiências ou carências afetivas, não dirime discussões ou conflitos no casal, não altera a trajetória de relações destruídas. O nascimento de um filho coroa o bom entendimento entre os pais e o relacionamento amoroso. Um vazio não pode ser preenchido por outro vazio; bem sabemos da matemática que a soma de dois zeros é igual a zero. A lei da sinergia funciona quando os dois têm amor para partilhar. A vinda do filho, obviamente, multiplica o amor e fortalece laços existentes na família, dilatando o coração do pai e da mãe, descentrando-os. O contrário do amor é o egoísmo. O amor despoja-nos e recentra o nosso cuidado na pessoa amada. Com o nascimento de um filho, o relacionamento entre os dois solidifica-se, enriquece-se e ajuda a que os dois centrem o olhar, não apenas um no outro, mas na mesma direção, no filho. Quem se torna pai, quem se torna mãe, dilata também a mente e o coração para um compromisso mais sério e responsável na sociedade, para fazer com que esta seja um lugar melhor e mais seguro para todos os filhos, para todas as crianças. É um desejo que muitas pessoas concretizam.

Um filho enche a casa, a vida, o coração. À alegria se juntam as preocupações, mas que expressam o amor. Amar e ser amado é um todo que nos realiza como pessoas e filhos amados de Deus. Mas a prevalência, ao jeito de Cristo, é tomar a iniciativa, amar, cuidar, gastar-se a favor do outro. A sua vinda mostra-nos que não há limite para o amor, nem sequer a morte, pois o amor eterniza-nos mutuamente.

Que a bênção deste Deus-Menino nos aqueça o coração, ilumine a nossa inteligência, inspire a nossa vontade, nos mobilize à partilha solidária e à atenção e cuidado a todos, prevalentemente aos que vivem situações de maior fragilidade. Santo Natal. Celebremos a vida!


Pe. Manuel Gonçalves, in Voz de Lamego, ano 93/07, n.º 4686, 21 de dezembro de 2022

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