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Editorial: Nascemos e jamais morremos

Esta expressão é de um livro que, em tempos sugerimos, como leitura, aos leitores da Voz de Lamego. O livro fala de Chiara Corbella Petrillo, que viria a morrer aos 28 anos de idade, rodeada da família e de muitos amigos, num ambiente de alegria. Também o funeral foi caracterizado pela alegria, pese embora a dor pela separação física. Não faltaram cânticos alegres, com o próprio marido a tocar viola e a cantar. Cada um faz o luto à sua maneira. Só uma fé profunda, amadurecida, palpável torna possível o canto, a ação de graças, a alegria, a esperança firme de que a vida não acaba jamais, para aqueles que a colocam em Deus.

Casou com Enrico, no ano de 2008, depois de um tempo de namoro nem sempre pacífico. A experiência com os franciscanos ajudou-os a entenderem-se e a assumirem-se como casal. Depois do casamento, dois primeiros filhos que não sobreviveram. Maria Grazia Letizia não tinha cérebro e sobreviveu, depois do parto, 30 minutos, tempo para ser batizada e amada também pelo olhar, pelo toque, pela presença física. Davide Giovanni foi o segundo filho do casal. Nasceu e viveu neste mundo cerca de 37 minutos. As ecografias mostraram a falta de uma perna e outra só com um pequeno toco e, posteriormente, malformações múltiplas na pélvis (bexiga e rins), impedindo também o desenvolvimento dos pulmões. Apesar dos diagnósticos, a opção foi que vivesse até onde fosse possível. Mais uma vez houve tempo para amar, olhar, para acolher e para batizar.

Não demorou muito até uma terceira gravidez. A patologia que enfermou a primeira filha nada tinha a ver com a do segundo filho, pelo que também não seria crível que um terceiro filho pudesse ter qualquer dos problemas dos dois primeiros. A este filho colocaram o nome de Francesco, como São Francisco de Assis.

Durante a gravidez, apareceu uma “afta” /ferida na boca de Chiara, que se veria a revelar um carcinoma. A primeira intervenção cirúrgica, com anestesia local, para não ser invasiva/prejudicial para o menino, correu bem. Porém, havia outros procedimentos a realizar como retirar os gânglios linfáticos o que pressupunha nova cirurgia, seguindo-se quimioterapia e radioterapia. O tumor revela-se muito agressivo. O aconselhamento médico era a de provocar um parto prematuro por volta dos sete meses de gestação, ainda que com riscos para a criança. São esses riscos que Chiara não quer correr e, por conseguinte, mantém a gravidez até dar a Francesco as condições necessárias para sobreviver em segurança. Após o parto, rapidamente são realizados os procedimentos para eliminar o tumor ou impedir o seu avanço. Faz-se o esvaziamento dos gânglios linfáticos. Uma intervenção muito dolorosa. Dois gânglios positivos. Avança-se com a rádio e a quimioterapia. A doença avança, progressiva e agressivamente. Os tratamentos não resultaram, aliviam a dor. Morre 13 de junho de 2012, depois de ter comungado, na noite anterior, deixando um testemunho de luz e de fé, de vida e de intensidade, de entrega a Deus. Deu tudo o que tinha por amor, a Deus, ao marido, aos filhos.

“Pequenos Passos Possíveis” (edições A.O.) é um livro com vários testemunhos sobre Chiara, do marido, do pai, de médicos, de amigos, da irmã, de sacerdotes, mas também com alguns textos seus. É este novo livro que me levou a falar-vos de Chiara Petrillo.


Pe. Manuel Gonçalves, in Voz de Lamego, ano 93/06, n.º 4685, 14 de dezembro de 2022

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