É uma expressão usada pelo Papa Francisco, dirigida, em várias ocasiões, aos jovens, em discurso direto ou em texto, mas que abrange outros grupos, ou melhor, toda a Igreja. O mundo em que vivemos é marcado por muitas ofertas, desafios, tentações. Aquilo que é oferecido nem sempre é o que precisamos. Há muitas promessas que no concreto são embuste, anestesiam, mas não são solução. Maquilham, escondendo a realidade, os sofrimentos, os sonhos, a necessidade de lutar, procurar, comprometer-se, de se envolver na transformação da sociedade, procurando construir fraternidade, ajudando e deixando-se ajudar, caminhar juntos.
Há muitas cópias. Somos seres originais. Valemos muito, valemos tudo, para Deus. Criou-nos únicos e irrepetíveis. Nesse sentido, não somos substituíveis nem por outras pessoas nem por máquinas. O nosso lugar fica vazio se não o ocuparmos. Aspirai a coisas grandiosas. Como sublinhava Bento XVI, nascemos para a beleza e para a grandeza, a grandeza que se forma e enforma na bondade e na santidade de Deus. Não sejamos cópias!
Em Lisboa, na JMJ 2023, o santo Padre, na Vigília de Oração, coloca em evidência o amor gratuito de Jesus Cristo e os tantos “amores” vendidos, comercializados, impostos.
“É preciso caminhar e, no caso de cair, levantar-se; caminhar com uma meta; treinar-se todos os dias na vida. Na vida, nada é de graça; tudo se paga. Só uma coisa é gratuita: o amor de Jesus! Assim, com este dom gratuito que temos – o amor de Jesus – e com a vontade de caminhar, caminhemos na esperança, olhemos para as nossas raízes e continuemos para diante, sem medo. Não tenhais medo”.
Antes, o Papa Francisco tinha desafiado os jovens a caminharem juntos, sem desistir diante das dificuldades: “O segredo do caminho está um pouco nisto: na constância em caminhar. Na vida, para se conseguir algo, é preciso treinar a caminhar. Às vezes não temos vontade de caminhar, não temos vontade de nos esforçar… na vida, nem sempre se pode fazer o que apetece, mas aquilo que nos leva a realizar a vocação que temos dentro de nós… Cada um tem a sua vocação. É preciso caminhar. E, se cair, levanto-me ou haja alguém que ajude a pôr-me de pé”.
Na Bula de convocação do Jubileu de 2025, «Spes non confundit – a esperança não engana» (Rm 5, 5), o Papa Francisco assume-se e assume-nos como “Peregrinos da Esperança”. Na homilia da Ascensão do Senhor, na passada quinta-feira, o Papa dá o mote: “Por entre cânticos de júbilo, subiu Jesus ao Céu onde está sentado à direita do Pai. Como acabamos de ouvir, Ele suportou a morte para que nos tornássemos herdeiros da vida eterna (cf. 1 Ped 3, 22). Por isso a Ascensão do Senhor não é afastar-se, separar-se, distanciar-se de nós, mas o cumprimento da sua missão: Jesus desceu até nós para nos fazer subir ao Pai; desceu até ao fundo para nos levar ao alto; desceu às profundezas da terra, para que o Céu pudesse abrir-se de par em par sobre nós. Destruiu a nossa morte para podermos receber a vida, e recebê-la para sempre”. E prossegue, dizendo que “está aqui o fundamento da nossa esperança: subindo ao Céu, Cristo coloca no coração de Deus a nossa humanidade carregada de anseios e interrogativos, dando-nos «a esperança de irmos um dia ao seu encontro, como membros do seu Corpo, para nos unir à sua glória imortal». Irmãos e irmãs, é esta esperança radicada em Cristo morto e ressuscitado que queremos celebrar, acolher e anunciar ao mundo inteiro no próximo Jubileu, que já está à porta… A esperança cristã é «uma herança incorruptível, imaculada e indefetível» (1 Ped 1, 4). A esperança cristã sustenta o caminho da nossa vida, mesmo quando este se apresenta tortuoso e cansativo… faz-nos sonhar com uma humanidade nova e torna-nos corajosos na construção dum mundo fraterno e pacífico, quando parece inútil empenharmo-nos. Esta é a esperança, o dom que o Senhor nos deu com o Batismo”.
Pe. Manuel Gonçalves, in Voz de Lamego, ano 94/26, n.º 4754, de 15 de maio 2024.