Foi como estagiária que entrei pela primeira vez na Comissão de Proteção de Crianças e Jovens de Lamego. Cumpri o meu estágio com sucesso, e em 2014, tendo em conta o meu desempenho e empenho nos trabalhos que sempre me foram destinados, fui convidada a fazer parte da comissão restrita. Não poderia ter recebido melhor convite!
Ainda que fosse um cargo não remunerado, foi me dada a possibilidade de iniciar o meu percurso profissional como gestora de processos de promoção e proteção de crianças e jovens, e percebi o quanto se pode ajudar uma criança/jovem, se realmente estivermos empenhados no que estamos a fazer.
Aprendi que, o tempo das crianças não é o nosso, e quem trabalha em prole delas, não tem tempo a perder. É necessário bastante foco e dedicação, mas principalmente é preciso responsabilidade, assertividade e organização. E, felizmente quando me cooptaram, os comissários presentes, sabiam que seria uma boa oportunidade para mim, mas também para muitas crianças e suas famílias, pois a garra com que entrei, determinou todo o meu percurso.
No desempenho das minhas funções, nunca me neguei a assumir os processos que me foram indicados, e dediquei-me totalmente às situações, tentando fazer mais e melhor. Sempre me prontifiquei para assumir as problemáticas mais complicadas e as situações mais desafiantes, pois sabia que na hora H, seria capaz de enfrentar sem receios o que fosse necessário para assegurar a segurança da criança, bem como para que fossem asseguradas todas as condições essenciais ao seu bem-estar.
Considero que desempenhei um bom trabalho enquanto membro da comissão, e que cumpri sempre com o que me competia. Mas com as crianças, os jovens e as suas famílias…sei que dei tudo o que tinha, e o que não tinha!! Todos os bocadinhos que podia ter livres para me dedicar às “minhas” crianças, foram aproveitados ao máximo, e por isso passei longas horas na Comissão, cumprindo o horário a que me propunha, e mais ainda…era a “minha casa”, e o foco sempre o mesmo: encontrar a melhor solução a proporcionar. Para além disso, primei sempre pelo seguimento das regras, tal como o trabalho exige nas comissões… um acompanhamento preciso das situações, atento a todas as normas proferidas pela Lei de Proteção de Crianças e Jovens em Perigo, e pelos ofícios circulares da Comissão Nacional de Promoção dos Direitos e Proteção das Crianças e Jovens.
Mais tarde, ser eleita presidente, não foi algo que almejasse, pois o que me move mesmo é a intervenção junto das crianças e suas famílias. Contudo, aceitei o desafio com orgulho, apreendendo que existem outras formas, outros sorrisos, outras cores… e que só cabe a nós proporcionar muito mais, a muitas mais crianças! Porém, nunca deixei de cuidar o meu propósito: acompanhar as crianças e suas famílias nos processos de promoção e proteção.
A Comissão cruzou o meu caminho, e foi sem dúvida onde realizei o voluntariado da minha vida!
Depois de deixar tudo orientado a nível processual e funcional, por forma a que a CPCJ não perdesse o equilíbrio e pudesse passar o testemunho de forma responsável, saí da CPCJ de Lamego, com a certeza de que cumpri a minha missão de forma exemplar, e procurei sempre fazer a diferença junto de muitas das “nossas” crianças, e suas famílias.
Passados anos de serviço voluntário… na verdade…são ELAS, e o bem que sempre procurei proporcionar-lhes que marca o percurso, e que deixa saudades. São anos, dedicados a ELAS, de coração cheio, por cada sorriso, por cada abraço… e com a única certeza de que se todos fizermos um pouco, haveá cada vez menos crianças a sofrer, e mais sorrisos para ver.
Milene Geada, in Voz de Lamego, ano 91/1, n.º 4778, de 13 de novembro de 2024