“Junto à cruz de Jesus estavam, de pé, sua Mãe e a irmã da sua Mãe, Maria, mulher de Clopas, e Maria Madalena. Então Jesus, ao ver ali a sua Mãe e o discípulo que Ele amava, disse à Mãe: ‘Mulher, eis o teu filho’. Depois, disse ao discípulo: ‘Eis a tua Mãe’. E, a partir daquela hora, o discípulo acolheu-a como sua” (Jo 19, 25-27).
Muito perto do último suspiro, Jesus entrega-nos Maria para que a reconheçamos como Mãe e nos vejamos como filhos. O evangelista conclui dizendo que a partir daquela hora, o discípulo a recebeu em sua casa, entre os seus, como sua mãe. Há autores que defendem que o discípulo amado poderá ser qualquer um de nós, eu e tu, se procurarmos, como ele, estar sincronizados com Jesus, aproximando o nosso coração do coração de Jesus.
Vistas bem as coisas, Maria, a Mãe de Jesus, está em todo o Evangelho e em toda a vida de Jesus. Ainda no quarto evangelho, há uma inclusiva, entre o início da vida pública, nas Bodas de Caná, e o Calvário. Claro que há ocasiões em que Maria não está fisicamente presente, basta ver o episódio em que ela e outros familiares vêm ao encontro de Jesus por lhes terem dito que Ele não estava no seu perfeito juízo. Esta inclusiva faz-nos ver como Maria está no início e no fim, ou seja, é como se nunca se tivesse ausentado, fazendo-se presente nos momentos nevrálgicos da vida do seu amado Filho.
Depois da Ascensão de Jesus, os discípulos regressam a Jerusalém, a casa. A comunidade está reunida. “E todos unidos pelo mesmo sentimento, entregavam-se assiduamente à oração, com algumas mulheres, entre as quais Maria, mãe de Jesus, e com os irmãos de Jesus” (Atos 1, 14).
Em outubro haverá nova sessão do Sínodo sobre a sinodalidade da Igreja. Por certo, já muito se refletiu, mas haverá sempre caminho a percorrer na oração, na comunhão e na missão. Isto de englobar todos, todos chamar e responsabilizar precisa de tempo e sobretudo de conversão. Maria aponta-nos o caminho, próxima de Jesus, procurando em tudo ser agradável a Deus e próxima de quem necessita. Sem dizer muitas palavras, Maria foca-nos e recentra-nos no essencial. Aquando da Anunciação (cf. Lc 1, 26-38), a sua resposta é lapidar: “Eis a escrava do Senhor, faça-se em mim segundo a Tua palavra”. Se é escrava do Senhor, não tem mais escravos, pois não é possível servir, como escravo, a dois senhores. Deus é o único Senhor de Maria. Nas suas palavras, Nossa Senhora diz claramente: faça-se em mim a Tua palavra! Cumpra-se a Tua vontade! Não a minha, mas a Tua vontade. Simples. Maria ama e sujeita-se, em tudo, a cumprir com os desígnios de Deus.
Nas Boas de Caná (cf. Jo 2, 1-12), ela simplesmente dirá aos serventes e, portanto, a nós: Fazei tudo o que Ele vos disser. Se fizermos o que Jesus nos manda seremos seus amigos, se procuramos viver e realizar a Sua vontade a vida acontecerá e será possível experimentar, já, aqui e agora, o Seu reino de amor, de paz e justiça.
Verdadeiramente sinodal (conciliar), Nossa Senhora compromete-se, inteiramente, com Deus, e desafia-nos a fazer o mesmo.
Vésperas da Natividade de Maria, celebrada em tons de Nossa Senhora dos Remédios, vê-se bem quantas centenas de pessoas ela continua a congregar, a atrair para os seus santuários. Foi assim durante muitas festas de verão, será agora na festa principal da cidade de Lamego. É uma sinodalidade bem popular e Maria surge, tantas vezes, como uma das razões fundamentais. Poderão dizer que tem a ver com o cartaz musical/cultural, mas na verdade, a parte (mais especificamente) religiosa continua a juntar multidões, na cidade como em outros recantos deste Norte de Portugal.
E tu, sentes-te desafiado por Maria, mãe de Jesus? Poderemos dizer, eu e tu, eis o/a escravo/a do Senhor, faça-se em mim a tua palavra?
Pe. Manuel Gonçalves, in Voz de Lamego, ano 94/40, n.º 4768, de 4 de setembro de 2024.