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Leituras: tesouro escondido

D. José Tolentino Mendonça – cardeal, especialista em assuntos bíblicos, poeta, ensaísta – tem, como é sabido, uma vasta obra, que incentiva os que a leem a adequar o seu comportamento aos princípios cristãos.

“O Tesouro Escondido” é uma das pérolas de sabedoria que constituem essa obra.

O autor começa por apresentar a parábola evangélica da dracma perdida e analisa cada uma das suas partes, destacando o respetivo simbolismo e, portanto, a sua relação com a nossa vida.

Temos então que a perda de apenas uma dracma pode representar “uma vida espiritual diminuída, amolecida, feita de meias tintas e de meias verdades” com as quais, às vezes, nos conformamos. Não assim a mulher, que acendeu a candeia, varreu a casa, procurou a moeda com cuidado e, quando a encontrou, chamou as vizinhas e as amigas para festejar com elas.

D. Tolentino considera esta parábola “uma espécie de pedagogia da inteireza” e destaca quatro pontos. O primeiro é o acender da luz, ação que, aplicada à vida, representa a atitude de ouvir a palavra de Deus e de a pôr em prática: “Acendamos a palavra do Verbo de Deus no nosso coração, tomemos Jesus como critério”. O segundo é o ato de varrer, isto é, “limpar, transformar, aclarar”. O terceiro consiste em “procurar cuidadosamente”, a fim de identificar “a raiz daquilo que nos desvitaliza espiritualmente” (medo? insegurança em relação ao amor de Deus?). O último ponto é a alegria: “A reconciliação ficaria inacabada se ela não desembocasse num reencontro com a alegria. […] Há uma genuína e transbordante alegria por aquilo que Deus faz acontecer em nós […]. A alegria não é, então, um aparato exterior, mas nós próprios nos tornamos motivo de alegria uns para os outros […]”.

Muitas outras orientações nos são dadas para vivermos uma fé autêntica. Aqui ficam algumas delas.

Tal como Abraão (outra das personagens bíblicas referidas), também nós devemos “Levantar os olhos deslumbrados e confiantes para o céu” porque é essa a atitude do crente. “Que os nossos olhos, feitos para olhar as estrelas, não morram a olhar para os nossos sapatos”. Abraão ensina-nos ainda a praticar a hospitalidade e a confiar incondicionalmente em Deus.

Também Jesus nos incentiva a confiar inteiramente em Deus, “como se confia na terna bondade de um pai que faz brilhar sobre todos o sol da sua ternura e do seu cuidado”. Outra lição que podemos igualmente aprender com Jesus é o valor e a necessidade da oração. “A cada instante da sua vida, Jesus reza. […] Para Jesus, a oração não fazia apenas parte da vida: ela era a vida. A sua existência era cumprida na presença de Deus, seu Pai, a cada instante. Jesus não esconde nada ao Pai. As suas alegrias e dores, as suas esperanças e as suas noites foram sempre partilhadas com o Pai. […] A oração cristã é aquela que se desenvolve seguindo os passos de Jesus e, aí, rezar é viver, com todas as nossas forças e com toda a nossa realidade, na presença de Deus”.

Este livro mostra-nos, pois, a sabedoria contida na Bíblia e a importância que ela tem para a nossa vida.


Margarida Dias, in Voz de Lamego, ano 93/45, n.º 4725, de 11 de outubro de 2023.

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