“Também nós, que nos encontramos aqui, temos os mesmos sentimentos; somos objeto, da parte de Deus, dum amor que não se apaga. Sabemos que tem os olhos sempre abertos para nos ver, mesmo quando parece que é de noite. Ele é papá; mais ainda, é mãe. Não quer fazer-nos mal, só nos quer fazer bem, a todos. Os filhos, se por acaso estão doentes, possuem um título a mais para serem amados pela mãe. Também nós, se por acaso estamos doentes de maldade, fora do caminho, temos um título a mais para que o Senhor nos ame” (João Paulo I, Domingo, 10 de setembro de 1978).
No passado Domingo, 4 de setembro, o Papa Francisco declarou João Paulo I como Beato, inscrevendo-o no livro da santidade que nos aproxima de Deus e nos faz ver o Seu amor por nós. Na homilia, propõe-no como referência: “O novo Beato viveu assim: na alegria do Evangelho, sem cedências, amando até ao extremo. Encarnou a pobreza do discípulo, que não é apenas desapegar-se dos bens materiais, mas sobretudo vencer a tentação de me colocar a mi mesmo no centro e procurar a glória própria. Ao contrário, seguindo o exemplo de Jesus, foi pastor manso e humilde. Considerava-se a si mesmo como o pó sobre o qual Deus Se dignara. Nesta linha, exclamava: «O Senhor tanto recomendou: sede humildes! Mesmo que tenhais feito grandes coisas, dizei: ‘somos servos inúteis’». Com o sorriso, o Papa Luciani conseguiu transmitir a bondade do Senhor. É bela uma Igreja com o rosto alegre, o rosto sereno, o rosto sorridente, uma Igreja que nunca fecha as portas, que não exacerba os corações, que não se lamenta nem guarda ressentimentos… Rezemos a este nosso pai e irmão e peçamos-lhe que nos obtenha «o sorriso da alma», um sorriso transparente, que não engana: o sorriso da alma. Servindo-nos das suas palavras, peçamos o que ele próprio costumava pedir: «Senhor, aceitai-me como sou, com os meus defeitos, com as minhas faltas, mas fazei que me torne como Vós desejais»”.
Luciani nasceu a 17 de outubro de 1912, na região de Vêneto, Itália, e foi batizado a 19. Foi ordenado padre a 7 de julho de 1935 e Bispo a 27 de dezembro de 1958, pela imposição das mãos do Papa João XXIII. Será escolhido para Patriarca de Veneza, pelo Papa Paulo VI, no dia 15 de dezembro de 1969. Em 16 de setembro de 1972, recebe o Papa Paulo VI, em Veneza, e é criado cardeal a 5 de março de 1973, Depois da morte de Paulo VI, a 6 de agosto de 1978, é eleito Papa, a 26 de agosto, e escolhe o nome de João Paulo I, num pontificado que durou 33 dias, pois viria a falecer (de ataque cardíaco fulminante) a 28 de setembro desse ano.
Eis a explicação para a escolha do nome: “O Papa João quis consagrar-me com as suas mãos, aqui na Basílica de São Pedro; depois, se bem que indignamente, em Veneza, sucedi-lhe na Cátedra de São Marcos, naquela Veneza que ainda está inteiramente cheia do Papa João. Recordam-no os gondoleiros, as Irmãs, todos. Depois o Papa Paulo não só me fez Cardeal, mas alguns meses antes, numa das pontes então colocadas na Praça de São Marcos, fez que me pusesse todo vermelho diante de 20.000 pessoas, porque levantou a estola e ma lançou sobre os ombros! Nunca me tinha posto tão vermelho! Por outro lado, em 15 anos de pontificado, este Papa mostrou, não só a mim, mas a todo o mundo, como se ama, como se serve, como se trabalha e como se sofre pela Igreja de Cristo. Por isso, disse: ‘Chamar-me-ei João Paulo’. Eu não tenho nem ‘a sabedoria de coração’ do Papa João, nem a preparação e a cultura do Papa Paulo. Estou, porém, no lugar deles e devo procurar servir a Igreja. Espero que me ajudeis com as vossas orações”.
Que o Papa do sorriso nos ajude a transparecer o sorriso de Deus.
Pe. Manuel Gonçalves, in Voz de Lamego, ano 92/41, n.º 4672, 7 de setembro de 2022