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Editorial: imersos na Páscoa de Jesus

O caminho de Quaresma que nos conduz à Páscoa, reaviva a nossa condição de batizados.

A Quaresma, importa dizê-lo, como outros tempos litúrgicos, não é estanque, está ligado ao mistério pascal, morte e a ressurreição de Jesus, cuja celebração, especialmente a Eucaristia, faz com que Jesus Cristo seja nosso contemporâneo.

Em Igreja, pela ação do Espírito Santo, Jesus está vivo, na comunidade reunida, no bem que em Seu nome se realiza, na celebração e vivência dos Sacramentos. Assim sendo, a Quaresma, não apenas nos prepara para celebrar a Páscoa, é também celebração da mesma em cada Domingo, em cada Eucaristia, desafiando-nos a um maior envolvimento com Jesus, em atitude de conversão, de transformação interior, de confrontação da nossa vida com a d’Ele, das nossas escolhas com o Seu proceder. Como cristãos, somos desafiados a verificar constantemente o nosso pensar e agir, procurando sintonizar com o pensar e o agir de Jesus e, tal como Ele, procurando realizar, em tudo, todos os dias, em todas as circunstâncias, a vontade de Deus.

A liturgia ajuda-nos a fazer esta acentuação. Orações, arranjos florais nas igrejas, cores dos paramentos, cânticos, a “sinalização” exterior com cruzes, panos roxos (brancos e roxos), painéis ou estandartes. A liturgia da Palavra, proposta na Eucaristia, diária ou dominical, traz a dinâmica do caminho, da conversão, da distância da nossa conduta à santidade de Deus que nos envolve. Quanto mais perto da Páscoa, mais os textos bíblicos nos rementem para as últimas horas de Jesus Cristo, histórica e temporalmente, no meio de nós.

Os Domingos da Quaresma surgem como desconto da Quaresma, isto é, não estão contabilizados nos quarenta dias, precisamente pelo facto de o Domingo ser Páscoa, primeiro e oitavo dia, festa da vida e da ressurreição de Jesus, fundamento da nossa esperança e da nossa paz.

As leituras propostas para os Domingos do ano A enquadram a liturgia batismal e, havendo batizados na Vigília Pascal, são também as escolhidas nos anos B e C. Assim, no terceiro Domingo da Quaresma, a temática da água (mas também da luz). Os discípulos vão comprar alimentos e Jesus alimenta a curiosidade da Samaritana, permitindo que ela veja a sede mais profunda que carrega e descubra que Ele é Água Viva, que sacia as buscas de sentido e de felicidade, preenchendo-a de vida. A Samaritana precisa, não de migalhas, de sobras, de pedaços, mas de um amor tão grande, duradouro e profundo que seja lastro, chão, raiz, seja Céu, onde os relacionamentos não sejam procura desesperada de preencher vazios, vazios a acolher vazios (zero mais zero é igual a zero), necessidade doentia de encontrar compensações, mas “amores” que encontrem sentido, envolvidos por um AMOR que é paz, segurança, bênção, esperança, garantia de futuro, de onde se pode partir, pousar e repousar e voltar! Claro que o amor humano é lugar privilegiado para encontrar o amor de Deus!

No quarto Domingo da Alegria, as trevas são transformadas pela Luz que vem de Jesus e o cego de nascença percebe, e com ele também nós, que não há trevas suficientemente densas que possam impossibilitar a chegada desta luz. Jesus vem ao nosso encontro para ser Luz que nos guia e nos salva.

No quinto Domingo, Jesus faz-nos ir ao túmulo de Lázaro, mostrando que nada nos separará do amor de Deus. Jesus coloca em evidência a omnipotência de Deus e do Seu amor por nós. A vida há de levar a melhor sobre a morte, a luz incindirá ali onde antes só havia trevas, desencanto, desilusão, perda e luto.

O Batismo faz-nos mergulhar na morte de Jesus e com Ele submergirmos como ressuscitados. A nossa identidade compromete-nos a viver como filhos da Luz, atraindo outros a este caminho de luz, de vida, de ressurreição e paz.


Pe. Manuel Gonçalves, in Voz de Lamego, ano 93/19, n.º 4699, 29 de março de 2023

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