A Madre Teresa de Calcutá recomendava às (suas) Irmãs da Caridade: “Nunca estejais tristes. Sorri, pelo menos, cinco vezes por dia. Basta um sorriso, um bom-dia, um gesto de amizade. Fazei pequenas coisas com grande amor”. Na verdade, sublinha, “a verdadeira santidade consiste em fazer a vontade de Deus com um sorriso”.
O sorriso coloca-nos ao nível uns dos outros, dispõe-nos e predispõe-nos à escuta, facilita a comunicação, aproxima-nos. Um rosto fechado afasta. Uma pessoa indisposta gera desconfiança, criando muros. Quem se quer perto de uma pessoa carrancuda, permanentemente melancólica?
Uma pessoa cronicamente maldisposta é uma pessoa ingrata, ressabiada com a vida, com os outros, com Deus, com o mundo. Uma pessoa sorridente atrai-nos, é-nos afável, acolhedora, parece que nos abraça com o coração. Uma pessoa triste, compreendendo que todos atravessamos momentos adversos, é uma pessoa fechada, parece que todas as pessoas lhe devem. Quem é que quer estar ao pé de um credor? Até porque a relação devedor/credor é desigual, coloca-nos em patamar distintos. O sorriso (verdadeiro) desarma-nos, faz baixar a guarda, humaniza-nos!
Poderemos dizer o mesmo da gratidão! Uma pessoa grata sabe sorrir, porque aprendeu a reconhecer a vida como dádiva, como bênção, aprendeu a olhar para os outros, para Deus, para o mundo reconhecendo-se devedora. A gratidão é também irmã da humildade. No fundo, diria, que os valores mais importantes da vida estão intimamente ligados e são interdependentes. A gratidão faz-nos reconhecer os outros e sorrir-lhes!
O Papa Francisco costuma lembrar três palavras que ajudam a viver melhor em sociedade e em família: desculpa, obrigado, por favor. A gratidão humaniza-nos, torna-nos dóceis e humildes, no reconhecimento do bem que o outro faz ou, pelo menos, tentou fazer. Coisas simples, quando nos dão um copo de água, quando nos abrem a porta para passar, quando nos colocam um prato de comida à frente, quando, no trânsito, nos deixam avançar sem que tenhamos prioridade! Até pode ser que seja a obrigação da pessoa, ou o seu trabalho profissional, mas o “obrigado” é sempre um gesto de delicadeza e de reconhecimento pela outra pessoa e pelo serviço, gratuito ou remunerado, que nos presta.
Obviamente, em sentido contrário, não fazemos o que fazemos para que nos agradeçam e, pode acontecer, que seja a nossa obrigação servir quem temos à frente. Mas, ainda assim, o agradecimento mostra que o outro, quem servimos, nos presta atenção e aos gestos que fazemos. Enche a alma, desarma as pessoas, faz-nos mais iguais.
Um dia, quando Jesus atravessava da Samaria para a Galileia, dez leprosos, mantendo-se à distância, suplicam-lhe por ajuda (cf. Lc 17, 11-19). Jesus atende-os e responde-lhes favoravelmente. Para os curar, Jesus não coloca condições, nem quanto ao antes nem quanto ao depois. Não os curou porque merecessem! É um dos nossos critérios, ajudar quem merece e faz por isso. Se não fazem por isso, estão a gozar com a nossa cara! A esperança que as suas vidas sejam diferentes daqui para a frente! Então teria que sopesar se reuniam os critérios para serem ajudados. Se é para que tudo volte ao mesmo, para quê perder tempo e recursos? Ora Jesus também não está a ajuizar das condições, simplesmente age. Rezam-lhe: Senhor, tem compaixão de nós, e Jesus atende as suas preces.
Na volta, só um samaritano sente “obrigação” de agradecer. Ou dito de outra forma, só o samaritano se sente agradecido, com motivos para glorificar a Deus. Uma pessoa grata abre o coração aos outros e ao Outro. Uma pessoa ingrata fecha-se, encerra-se sobre si mesmo, torna-se fria, insensível, arrogante, indisposta com tudo e com todos. A gratidão salva, portanto, agradece, sorrindo.
Pe. Manuel Gonçalves, in Voz de Lamego, ano 92/46, n.º 4676, 12 de outubro de 2022