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Eucaristia, um dom para os outros

Na passada quinta-feira, vivemos a solenidade do santíssimo Corpo e Sangue de nosso Senhor Jesus Cristo (Corpus Chriti). Na sexta-feira desta semana, celebraremos a solenidade do Sagrado Coração de Jesus. É o mesmo mistério, o mesmo amor. Amor de Deus Pai, visível e manifestado em Jesus Cristo, comunicado à humanidade, perene e para sempre, até à eternidade.  O Espírito Santo dá-nos a Eucaristia, isto é, o Corpo e Sangue de Jesus, faz memória e torna presente a Sua morte, como oferenda, e a Sua ressurreição, que nos agrafa à vida divina. É de amor que falamos. Celebrámo-lo, para nos deixarmos transformar pela Sua presença, para nos identificarmos com Ele, no cuidado e serviço aos outros, dando/gastando a vida. Viver como Ele. D’Ele nos alimentamos, para que Ele nos assimile, ao ponto de chegarmos a afirmar, convictamente, como são Paulo, já não sou eu que vivo! É Cristo que vive em mim.

O centro da vida cristã é, deverá ser, a Eucaristia. Na solenidade do Corpo de Cristo, acentua-se, não apenas a celebração, mas a adoração e, ainda mais, a procissão, que reafirma a presença real de Jesus na hóstia consagrada. Séculos de história e tradição. As aldeias, vilas e cidades paravam por completo para participar e, nalguns casos, assistir à Procissão do Santíssimo Corpo de Jesus. Obviamente, a adoração, como a procissão, decorre e é consequência da celebração.

Jesus, antecipando o mistério da Sua paixão redentora, garante-nos a Sua presença, no Seu corpo e sangue, nas espécies do vinho e do pão. A solenidade remete-nos para a primeira quinta-feira santa e para todas as quintas-feiras! O mistério eucarístico dá-nos Jesus e trá-l’O ao presente. Na Eucaristia, Ele torna-Se nosso contemporâneo. Ele está connosco até ao fim dos tempos. A sua presença é real na Eucaristia, na transubstanciação das espécies. O milagre acontece! O pão torna-se Corpo. O vinho torna-se Sangue. Encarnando, assumiu-nos e assumiu a nossa carne, a nossa frágil e sublime condição humana e finita. Com a Eucaristia, continua a dar-Se por inteiro, na nossa realidade humana, em elementos que podemos saborear e nos alimentam, biologicamente, e, uma vez consagrados, nos alimentam espiritualmente, para que nos tornemos n’Ele, acolhendo-O na nossa vida, no nosso corpo e sangue. Ele tornou-Se igual a nós, agora é connosco. Com a Sua graça, tornar-nos-emos iguais a Ele, ou parecidos, comungando-O e deixando que Ele nos assimile e nos transforme, por inteiro.

 No último Domingo, o santo Padre colocou em evidência a dimensão comunitária da Eucaristia e as consequências sociais que há de provocar em nós. Com efeito, “celebrar a Eucaristia e alimentar-se desse Pão, como fazemos especialmente aos domingos, não é um ato de culto desvinculado da vida ou um simples momento de consolação pessoal”. Na verdade, “Jesus toma o pão não para consumi-lo sozinho, mas para parti-lo e dá-lo aos discípulos, revelando assim a sua identidade e a sua missão”. Sim, “devemos sempre lembrar-nos de que Jesus tomou o pão, partiu-o e deu-o. Portanto, a comunhão com Ele torna-nos capazes de também nos tornarmos pão partido para os outros, capazes de partilhar o que somos e o que temos”.

Vale a pena fixar-nos nas palavras do Papa Francisco, que prossegue, dizendo que “quando superamos o egoísmo e nos abrimos ao amor, quando cultivamos laços de fraternidade, quando partilhamos os sofrimentos de nossos irmãos e dividimos o pão e os recursos com os necessitados, quando colocamos à disposição de todos os nossos talentos, então partimos o pão das nossas vidas como Jesus”.

Deus cria-nos por amor, procura-nos e faz-Se um de nós, encarnando. E permanece, até ao fim dos tempos, no mistério da Eucaristia, encarnando, novamente e sempre, através de nós, no cuidado e serviço que prestamos aos outros.


Pe. Manuel Gonçalves, in Voz de Lamego, ano 94/29, n.º 4757, de 5 de junho 2024.

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