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Levanta-te. A tua vida é um dom

Está a decorrer a Semana da Vida. O tema está relacionado com o da Jornada Mundial da Juventude – “Maria levantou-se e pôs-se apressadamente a caminho” (Lc 1, 39). Maria, depois da anunciação do Anjo, corre ao encontro da sua parenta Isabel. A pressa de Maria prende-se com a urgência em anunciar a alegria da Boa Notícia recebida. É um anúncio entre palavras. “Logo que a voz da tua saudação, o menino exultou de alegria no meu seio”, proclama Isabel. A saudação de Maria deixa entrever alegria, júbilo, gratidão.

Tudo isto o podemos relacionar com vida, anunciada, gerada, vivida, comunicada. A vida gera mais vida. A morte não gera vida, nem paz, nem saúde. A violência gera e multiplica a violência, como o ódio alimenta, aprofunda e irradia mais ódio. O que se faz para defender a vida, a saúde, a verdade, o bem, gera vida e vida em qualidade. O contrário gera morte, a desistência diante das dificuldades e do sofrimento, a cedência à comodidade dos outros, a opção por eliminar o sofrimento, não pela ajuda, terapêutica, medicina, mas incentivando a desistir, baixar os braços, deixar-se morrer.

Dias antes desta Semana, o Parlamento aprovou a eutanásia. A legalização do aborto, enquanto não foi possível no Parlamento, foi proposta a referendo, uma e outra vez… e enquanto não fosse aprovada, voltaria a haver referendos, até ao cansaço e desistência dos defensores da vida. Na questão da eutanásia, em vários momentos, prevaleceu a pressa em aprovar a lei, já que havia uma maioria que dispensaria o/s referendo/s ou a discussão alargada. Se no Parlamento não houvesse uma maioria tão expressiva e apressada em aprovar a eutanásia, então alguns partidos forçariam o referendo, apelando à participação do povo. Questões vitais, que não são referendáveis, mas da consciência de cada um, dizem-nos, mas a primeira foi sujeita ao referendo para que cada um se pronunciasse; a segunda já se dispensa, porque a Assembleia da República foi justamente eleita para decidir!

O aborto e eutanásia vêm de há séculos, antes do cristianismo preconizar o mandamento do amor ao jeito de Jesus: a vida é um dom que Deus, ganha-se perdendo-a, isto é, gastando-a a favor dos outros. Não nos cabe roubar a vida, nem a esperança nem o sonho, aos outros, trata-se da minha e da tua vida e o que fazemos para que a nossa vida seja verdadeiramente dom, recebido, vivido e partilhado, transformando-se em bênção.

No último sábado, o santo Padre manifestou a sua estupefação: “Estou triste porque no país onde Nossa Senhora apareceu, foi promulgada uma lei para matar. Mais um passo na lista de países que aprovaram a eutanásia”. O Papa convida-nos a olhar para Nossa Senhora como modelo de vida e de ternura. A “espada de dor” que trespassaria o seu coração, nunca a fizeram vacilar, manteve-se firme até ao Calvário, até ao fim.

A eutanásia foi aprovada nos mesmos dias que soubemos que mais quatro unidades de cuidados continuados encerraram. Uma aposta, com custos, naturalmente, mas que tem sido reiteradamente esquecida. É possível que o investimento na vida seja mais dispendioso que a promoção da morte!

Cabe-nos, como cristãos e como cidadãos, empenhar-nos em acolher, viver e celebrar a vida. Na verdade, a lei não pode e não deve intervir com o nosso compromisso em defendermos a vida, a dignidade da pessoa, a igualdade de oportunidades, o respeito e acolhimento das diferenças, a ajuda a pessoas mais desfavorecidas, a companhia como ajuda contra a solidão na doença e na velhice, a melhoria das condições económicas, sociais e culturais das famílias, a formação cristã.

Levanta-te. A vida é um dom. Faz dela uma bênção.


Pe. Manuel Gonçalves, in Voz de Lamego, ano 93/26, n.º 4706, 17 de maio 2023

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