Vivemos a Semana Nacional Cáritas que culmina no próximo Domingo, com a recolha da nossa generosidade, no convite à oração, pelos que ajudam e pelos que precisam de auxílio, à reflexão, sobre o que se tem feito, caminhos percorridos, e pelo que se pode fazer, os caminhos a percorrer, e no compromisso concreto na ajuda aos mais carenciados, na atenção a pessoas e famílias que vivem nos mesmos locais que nós, e eventualmente dispondo de tempos para o envolvimento com grupos caritativos.
Caridade (cáritas) foi a palavra fixada pelos cristãos para caracterizar o amor de Deus para connosco, manifesto, vivido, concretizado em plenitude por Jesus Cristo, que veio para nos mostrar um amor sem limites, sem reservas nem condições. Os que O seguem assumem o mesmo compromisso. Seguir Jesus implica-nos com Ele, com o Seu modo de agir, de viver, o seu jeito de Se dar por inteiro, a favor de todos, especialmente dos esquecidos da sociedade, da política, da cultura. Ele vem para que tenhamos vida e vida em abundância (cf. Jo 10, 10). Fez-Se pobre para nos enriquecer com a Sua pobreza, com o Seu amor (cf. 2 Cor 8, 9). Jesus não nos manda fazer nada além do que Ele mesmo faz: dar a vida, gastar-se pelo outro, servir e cuidar. Nas palavras do santo Padre, quem não vive para servir não serve para viver. Esta é a verdadeira riqueza da Igreja e dos cristãos. “Deus é amor: quem permanece no amor, permanece em Deus, e Deus permanece nele” (1Jo 4,16). Uma fé que não redunde em obras, é oca, vazia, inautêntica. Como nos revela são Tiago: “A fé: se não se traduz em obras, por si só está morta. Em compensação, alguém poderá dizer: Tu tens a fé e eu tenho a prática! Tu, mostra-me a tua fé sem as obras, que eu te mostrarei a minha fé pelas obras!” E são Tiago dá um exemplo concreto: “Imaginai que um irmão ou uma irmã não têm o que vestir e que lhes falta a comida de cada dia; se então alguém de vós lhes disser: Ide em paz, aquecei-vos, e comei à vontade sem lhes dar o necessário para o corpo, que adiantará isso?” (Tiago 2, 14-18).
No Juízo Final, segundo são Mateus, Jesus declara: o que fizeste ao mais pequeno dos meus irmãos foi a Mim que o fizeste. Seremos julgados pelo amor que colocamos em tudo o que fizemos, mas o amor passa do coração às mãos, como a fé. “Tive fome e destes-me de comer, tive sede e destes-me de beber, era estrangeiro e acolhestes-me, estava nu e vestistes-me, estava doente e visitastes-me, estava na prisão e fostes ter comigo” (Mt 25, 35-36).
Diz-nos o santo Padre que a “Cáritas é a carícia da Igreja para com o seu povo, a carícia da Mãe Igreja para com os seus filhos, a sua ternura e a proximidade”. Por sua vez, o seu antecessor, Bento XVI, expressa-se assim: “O amor — «caritas» — é uma força extraordinária, que impele as pessoas a comprometerem-se, com coragem e generosidade, no campo da justiça e da paz” (Caritas in Veritate, 1).
A caridade é o rosto da Igreja. Não é uma mera opção pastoral ou uma dimensão que se acentua em conformidade com os contextos históricos e sociais, é a essência da Igreja. Se Deus é Amor, só no amor nos identificamos com Ele, confrontando a nossa fé e o nosso agir com a vida de Jesus.
Pe. Manuel Gonçalves, in Voz de Lamego, ano 93/16, n.º 4696, 8 de março de 2023