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Editorial: Laudate Deum

No dia 4 de outubro, memória litúrgica de são Francisco de Assis, foi publicada a Exortação Apostólica do Papa Francisco “Louvai a Deus” (Laudate Deum). O mote é dado a abrir a Exortação: «LOUVAI A DEUS por todas as suas criaturas»: foi este o convite que são Francisco de Assis fez com a sua vida, os seus cânticos e os seus gestos. Retomou assim a proposta dos salmos da Bíblia e reproduziu a sensibilidade de Jesus para com as criaturas de seu Pai: «Olhai como crescem os lírios do campo: não trabalham nem fiam! Pois Eu vos digo: Nem Salomão, em toda a sua magnificência, se vestiu como qualquer deles» (Mt 6, 28-29). «Não se vendem cinco pássaros por duas pequeninas moedas? Contudo, nenhum deles passa despercebido diante de Deus» (Lc 12, 6). Como deixar de admirar esta ternura de Jesus por todos os seres que nos acompanham no nosso caminho?

A explicação sobre a necessidade de voltar a reunir dados, reflexões, propostas e interpelações, vem no número dois: “Já passaram oito anos desde a publicação da carta encíclica Laudato si’, quando quis partilhar com todos vós, irmãs e irmãos do nosso maltratado planeta, a minha profunda preocupação pelo cuidado da nossa casa comum. Mas, com o passar do tempo, dou-me conta de que não estamos a reagir de modo satisfatório, pois este mundo que nos acolhe, está-se esboroando e talvez aproximando dum ponto de rutura. Independentemente desta possibilidade, não há dúvida que o impacto da mudança climática prejudicará cada vez mais a vida de muitas pessoas e famílias. Sentiremos os seus efeitos em termos de saúde, emprego, acesso aos recursos, habitação, migrações forçadas e noutros âmbitos”.

Ao longo do tempo, o santo Padre tem clarificado e insistido na necessidade de cuidar desta casa que a todos foi dada, não para usurpar, mas para viver, cada um trabalhando para que possa ser a casa de todos e para todos, sem excluídos. Nas redes sociais, nos meios de comunicação social, temos assistido a manifestações, algumas com carácter mais ou menos violento e ofensivo, que visam proteger os animais e natureza desligada da pessoa humana. A defesa do ambiente não se faz contra o ser humano, faz-se com todos, homens e mulheres, mais novos e mais velhos, famílias e empresas, dirigentes e dirigidos. A ecologia não pode ser simplesmente ideologia ou como a economia, que segrega, exclui, explora, esquece os mais desfavorecidos, os sem voz e sem vez. O papa, na carta encíclica Laudato Si’, já nos tinha fixado na ecologia integral, onde os pobres terão de ser tidos em conta. “Por isso mesmo se exclui a ideia de que o ser humano seja um estranho, um fator externo capaz apenas de danificar o ambiente. Mas deve ser considerado como parte da natureza. A vida, a inteligência e a liberdade do homem estão inseridas na natureza que enriquece o nosso planeta, fazem partedas suas forças internas e do seu equilíbrio” (26).

Não basta bramir slogans, frases feitas para provocar, é preciso agir, viver e comprometer-se na transformação do mundo, integrando os mais frágeis. Um exemplo concreto: sai um telemóvel, ou um novo gadget, e logo compramos! Pensa! Quando corremos a comprar, temos em conta o desperdício em relação ao que já temos? As baterias e outros materiais que vão para o lixo? Entregamos os telemóveis antigos para serem reciclados ou recondicionados? Pensamos onde foram produzidos e se o trabalho realizado foi justamente remunerado? Muitas vezes os preços baixos são conseguidos às custa da pobreza, da exploração do trabalho, de milhares de pessoas.

Deixemos o exemplo… mas não esqueçamos que também temos responsabilidade no cuidado e na proteção do ambiente…


Pe. Manuel Gonçalves, in Voz de Lamego, ano 93/45, n.º 4725, de 11 de outubro de 2023.

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